Após 35 anos dedicados à sala de aula na Universidade de São Paulo (USP), Álvaro Vanucci, de 62 anos, decidiu que manter a paixão dos alunos de graduação pela Física não era o suficiente. Ele queria convencer mais pessoas de que a disciplina é interessante. Por isso, assim que se aposentou, decidiu abrir um café com a temática.

Instalado em um sobrado em uma rua com pouco movimento de carros na Barra Funda, zona oeste paulistana, o café parece apenas um refúgio do barulho e agitação da cidade. Mas, já na entrada do local, é possível ver que não se trata de uma cafeteria comum. Em cima do balcão de doces, um globo terrestre flutua no ar, sem encostar na base que o sustenta (ímãs o mantêm suspenso). Logo ao lado, está instalado um sistema de roldanas, como os que estudantes costumam ver nos exercícios de escola.

Especialista em Fusão Nuclear do Instituto de Física da USP, Vanucci decidiu que o café seria uma forma de divulgação científica inédita no País: uma cafeteria com experimentos acessíveis ao público leigo.

“Essas experiências já estão muito consolidadas na Europa e nos Estados Unidos, com museus, lojas e restaurantes com temática científica. Quando via isso em outros países sempre me questionava do porquê não existir lugares assim no Brasil.”

No café, decoração se confunde com experimentos. Uma luminária é suspensa por polias (tipo de roldana), um aparente espelho, na verdade, mostra como funciona o comportamento da luz. Pendurada no teto, uma mola de plástico demonstra a propagação de uma onda.

“Há muito preconceito com a Física porque a ensinamos de forma chata na escola, como se fosse só teoria e contas matemáticas. Os alunos associam a Física a um monte de fórmulas escritas na lousa, quando na verdade ela está presente em tudo o que fazemos.” As famosas, e para alguns até assustadoras, fórmulas também estão presentes em uma grande lousa em cima das mesas – no dia em que a reportagem esteve no café, estava descrita a equação de Schodinger – que descreve o comportamento do mundo microscópico – ao lado de uma ilustração do cientista Albert Einstein.

A reforma da casa durou dois anos, porque Vanucci queria ter certeza de que escolheu o melhor para cada um dos itens da cafeteria. Os experimentos expostos foram feitos com ajuda de colegas da USP. Já os bolos, salgados e café foram escolhidos pela mulher, também professora de Física.

No andar de cima, foram separadas três salas – uma maior para palestras, onde Vanucci já fez sessões sobre sua área de pesquisa, e outras duas menores, para aulas particulares de ensino médio ministradas por ex-alunos de Vanucci. Enquanto apresenta o café aos clientes, ele brinca com os experimentos e conversa sobre todo tipo de assunto, mostrando que a Física está presente em tudo o que se vê, ouve, toca e até o que não podemos sentir.

Mágica

A barista Roberta Souza, que antes trabalhava na produção de medicamentos, diz ter se encantado por esse novo mundo. “Sempre dizia que não gostava de Física, mas por causa da lembrança que tinha da escola. Aqui, descobri que a Física é engraçada, como mágica. Fico curiosa para descobrir como funciona cada novo experimento que ele apresenta como se fossem brinquedos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.