Quem achou que 1999, o ano da desvalorização cambial, entraria para a história como o melhor de todos os tempos para os bancos se enganou. Este ano aconteceu o que parecia impossível. Os lucros continuaram em alta em 2000 e superaram em 8,2% o excepcional resultado do ano anterior. ?Contrariando as expectativas iniciais, os bancos se tornaram ainda mais lucrativos?, diz Erivelto Rodrigues, consultor da Austin Asis, coordenador de uma pesquisa que teve como base os balanços de 32 instituições, donas, em conjunto, de 75% do total de ativos do setor. O Itaú, por exemplo, anunciou na semana passada o maior lucro do mercado financeiro, de R$ 1,86 bilhão. O Bradesco ficou em segundo lugar, com R$ 1,74 bilhão. Até mesmo o Banco do Brasil, considerado menos eficiente, faturou R$ 974 milhões. A explicação mais convincente para o espantoso resultado, diz Rodrigues, encontra-se em um prosaico item contábil na coluna de despesas das planilhas: o pulo do gato foi a queda vertiginosa na conta de provisões ? o montante de dinheiro que os bancos separam para cobrir possíveis perdas com devedores duvidosos. Obrigados pelo Banco Central a lançarem como perdidos apenas os créditos com atraso de 180 dias ou mais, os bancos viram as provisões caírem 53,3%, para R$ 5,3 bilhões.

Com as despesas em baixa, os lucros automaticamente subiram.
Até a metade do ano passado, cada banco fazia suas provisões como bem entendia. ?As instituições sempre foram ultraconservadoras e lançavam para crédito duvidoso operações com atrasos de apenas alguns dias?, explica Rodrigues. Essa política reduzia o lucro dos bancos, e, em conseqüência, diminuía também o Imposto de Renda a pagar. O BC acabou com essa liberalidade na virada para o segundo semestre de 2000. A classificação dos créditos foi padronizada em oito níveis de inadimplência, de acordo com o tempo de atraso nas parcelas. Para cada nível o BC fixou um porcentual de provisionamento obrigatório. Agora só empréstimos com atraso acima de 180 dias podem ser dados como perdidos. Apenas esses podem ser cobertos com provisão igual a 100% do financiamento.

Não foram só as despesas que ajudaram os ba-lanços. Do lado das receitas, o item que mais colaborou foi o de tarifas sobre serviços. As receitas com taxas sobre manutenção de conta corrente, administração de fundos e anuidade de cartões de crédito subiram 18% em 2000. ?A base de clientes cresceu e os bancos passaram a cobrar por serviços que antes eram gratuitos?, conta Rodrigues. Um bom exemplo são as contas inativas, que antes eram livres de tarifas e agora sofrem cobranças. O envio de talões de cheques, antes gratuito, também é objeto de taxas. ?A receita com serviços será de fundamental importância?, acredita Rodrigues. O Bradesco conseguiu aumentar as receitas com tarifas em 50%, de R$ 2 bilhões para R$ 3 bilhões, em um ano. Já o Itaú, com quase 3 milhões de correntistas a menos, obteve receita superior, de R$ 3,5 bilhões. Hoje a receita de serviços é suficiente para cobrir toda a folha de pagamento das instituições mais eficientes. ?Há três anos, ela cobria apenas 65% dos gastos com funcionários?, diz Rodrigues.

A explosão no volume das carteiras de crédito no ano não aumentou, na média, o resultado nos balanços. A queda dos juros e a redução gradual dos spreads bancários tornaram as carteiras menos rentáveis. Devido à queda nas taxas, a receita com crédito em 2000 foi 10% menor do que em 1999, embora os empréstimos tenham aumentado cerca de 30%.

O diretor da Austin Asis acredita que os bancos ainda manterão neste ano o mesmo ritmo de lucratividade. ?Não vai ser muito diferente. O lucro continuará a apresentar forte ritmo de crescimento?, diz. O aperto será maior para as instituições menos eficientes. ?Essas certamente serão engolidas por outras mais preparadas?, diz. As maiores já estiveram no topo da lista das mais rentáveis em 2000. A rentabilidade sobre o patrimônio do Itaú foi de 27,7%, superando os 21,5% obtidos pelo Bradesco e os 17,5% apurados pelo Unibanco.