A notícia deve ter surpreendido as agências de risco, que colocavam a Nigéria como um devedor mais sólido do que o Brasil. O país africano, cuja renda per capita é quase a metade da registrada no Piauí, suspendeu na terça-feira 27 o pagamento de sua dívida externa
de US$ 28,2 bilhões. O mercado reagiu com um suspiro conformado, até porque o desfecho era mais do que previsível. Assolada por uma guerra civil que desde 1999 já causou a morte de mais de 10 mil pessoas em conflitos étnicos e religiosos, a Nigéria chegou à moratória num momento de convulsão política ? o mais populoso país da África, com 120 milhões de habitantes, espera por sua primeira eleição após 15 anos de ditadura militar. Além disso, o país perdeu 40% de sua receita com as vendas do petróleo, desde que a Opep, o cartel dos países produtores, decidiu reduzir as cotas nigerianas.

O petróleo representa 80% da riqueza do país, que é o décimo produtor mundial. O presidente do Banco Central da Nigéria, Joseph Sanusi, anunciou que a suspensão de pagamento era inevitável para preservar o que ainda restava das reservas externas do país, reduzidas de US$ 10,7 bilhões para US$ 8,7 bilhões de dezembro para junho. O prejuízo da decisão ficará basicamente para os países com os quais foram fechados acordos bilaterais. A maior parte da dívida, quase US$ 22 bilhões, é com o Clube de Paris, uma associação de governos credores. Fora isso, a decisão trouxe efeito muito pequeno para o cenário mundial, ao contrário do prejuízo global. ?O peso da Nigéria no contexto mundial é muito pequeno?, avalia Odair Abate, economista do Lloyds TSB. O que ninguém de bom senso consegue entender é o fato de agências internacionais compararem o Brasil à Nigéria ? tanto lá quanto aqui o chamado risco país beira os 2 mil pontos.