Nicola Ferguson Sturgeon pensou em 19 de setembro de 2014 que o sonho da sua vida, a independência da Escócia, teria que esperar décadas, mas a tormenta do Brexit pôs em suas mãos a possibilidade de diminuir a espera.

Era o dia seguinte ao referendo de independência da Escócia: a oportunidade – rechaçada por 55% dos eleitores – de acabar com mais de 300 anos de união com a Inglaterra e o País de Gales, uma aliança que subjugou a região do norte, segundo a visão de seu Partido Nacional Escocês (SNP).

E foi também o dia em que viu a sua ascensão à frente do partido e do governo regional escocês, substituindo o seu mentor, Alex Salmond, que renunciou depois da derrota.

Sturgeon nasceu em 19 de julho de 1970 na cidade de Irvine, no oeste da Escócia, filha de um eletricista e de uma enfermeira. É casada com outro político do SNP, Peter Murrell, e não tem filhos.

“Ninguém nas minhas origens podia prever que me tornaria uma política importante”, considerou certa vez.

– Movida pelo ódio a Thatcher –

Foi uma mulher que a serviu de inspiração: “Margaret Thatcher foi a principal motivação da minha carreira política. Odeio tudo o que ela defendia”.

A primeira mulher a liderar a Escócia considera, entretanto, que a dureza das mulheres na política tem uma explicação: os homens.

“Quando se é jovem no mundo da política, com poucas mulheres ao redor, você começa a se comportar inconscientemente como os homens. Isso significa parecer rígida, e com pouco senso de humor, mas é porque está tentando que te levem a sério”, disse à revista de moda Grazia.

Aos 16 anos, canalizou a rebeldia adolescente entrando no SNP, após flertar brevemente com o movimento punk. “É horrível quando sai alguma foto” daquela época, explicou.

Estudou Direito na Universidade de Glasgow e trabalhou como advogada em um centro comunitário. Em 1999, aos 29 anos, passou a se dedicar exclusivamente à política, ao ser eleita deputada no primeiro Parlamento escocês.

A Escócia acabava de recuperar o Parlamento depois de quase três séculos e Sturgeon representa a primeira geração de nacionalistas que desenvolveram a sua carreira em uma marco institucional. Isso a distancia do estilo mais guerrilheiro de seus pais políticos, a geração de Salmond.

– A mulher mais perigosa do Reino Unido –

Ainda assim, o tabloide de direita Daily Mail a definiu como a mulher mais perigosa do país. “Adorei, foi a coisa mais bonita que o Daily Mail disse sobre mim”, respondeu Sturgeon.

A saída do Reino Unido da União Europeia fez tremer a política britânica e tornou possível o inimaginável: outro referendo de independência na Escócia em breve.

Mais distante permanece a aceitação dos nacionalistas escoceses de que o referendo de 2014 resolvia a discussão por pelo menos uma geração.

E onde Salmon falhou, Sturgeon pode triunfar, embora para isso tenha que ampliar o apoio à causa, que obtém neste momento pouco mais de 50%, uma vantagem muito frágil.

E Sturgeon não dá um passo em falso. “Sempre foi muito reservada para se assegurar de que não iria dizer nada que pudesse lhe causar dificuldades no futuro”, disse Fiona Hyslop, secretária de Cultura do governo regional, recordando a jovem Sturgeon.