Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro que mais tempo permaneceu no poder em Israel, adorado por alguns e muito criticado por outros, tem apostado fortemente na carta da defesa do país.

Mas, depois de 12 anos ininterruptos no poder e manobras intermináveis para permanecer à frente do governo, Netanyahu está prestes a perder suas funções após o voto de confiança no Parlamento programado para este domingo para uma nova “coalizão de mudança”.

Seus opositores o veem como um “ministro do crime”, e não um primeiro-ministro, fazendo alusão às acusações de corrupção, peculato e quebra de confiança que pesam sobre ele.

Seus partidários veem em “Bibi” a encarnação do novo “rei de Israel”, por sua defesa pétrea do país contra o Irã, o arquiinimigo.

Com sua inconfundível voz rouca, seu cabelo grisalho sempre impecavelmente penteado e muitas vezes vestido de azul, Netanyahu é o único primeiro-ministro da história do país que nasceu após a criação de Israel, em 1948.

Nascido em Tel Aviv em 21 de outubro de 1949, ele herdou a forte bagagem ideológica de seu pai, Benzion, que foi assistente pessoal de Zeev Jabotinsky, líder da tendência sionista chamada “revisionista”, favorável a uma “Grande Israel” que inclua a Jordânia.

Contrário ao processo de paz palestino-israelense de Oslo, que ele mesmo ajudou a enterrar, Netanyahu defende uma visão de Israel como um “Estado judaico” cujas fronteiras se estendem até a Jordânia. Nesse sentido, apoia a anexação da Cisjordânia ocupada e suas medidas favoreceram um aumento das colônias.

Nos anos 1970, após a Guerra dos Seis Dias (1967), o jovem Netanyahu presta o serviço militar em um comando de elite.

Mas foi principalmente seu irmão mais velho, Yoni, que se destacou no Exército. A morte dele, em 1976, durante a invasão israelense para libertar os reféns de um voo Tel Aviv-Paris, comoveu profundamente Netanyahu, que faria da “luta contra o terrorismo” um dos principais lemas de sua carreira.

“Benjamin Netanyahu construiu sua figura política em torno de uma imagem de força e da ideia segundo a qual os judeus não podem se conformar com uma fé morna, devendo se mostrar tão duros quanto a região em que vivem”, escreveu em suas memórias o ex-presidente americano Barack Obama.

Embora mantenha suas declarações duras contra os líderes palestinos, Netanyahu defendeu a normalização recente das relações com países árabes – Emirados Árabes, Barein, Sudão e Marrocos – e sonha estendê-la à Arábia Saudita.

– Círculo íntimo –

Orador nato, Netanyahu também é um diplomata de carreira. Viveu nos Estados Unidos, onde estudou e foi embaixador na ONU nos anos 1980.

Quando retornou a Israel, foi eleito deputado em 1988 pelo Likud, grande partido da direita israelense, do qual rapidamente se tornou o novo astro.

A ascensão de Netanyahu foi imparável até 1996, quando, aos 47 anos, ele se tornou o primeiro-ministro mais jovem da história de Israel. Seu governo, no entanto, durou apenas três anos.

Após permanecer afastado por algum tempo, retomou sua grande paixão, a política, voltou a liderar o Likud e foi novamente eleito premier em 2009.

Embora eleição após eleição uma parte do eleitorado tenha concedido sua confiança, Netanyahu parece confiar apenas em um pequeno círculo de colaboradores.

Atualmente, vários de seus adversários são ex-ministros. “Não acho que seja coincidência. Ele não confia em ninguém e seu valor fundamental é garantir sua própria sobrevivência, motivo pelo qual usa as pessoas e depois as afasta”, aponta Colin Shindler, professor na School of Oriental and Asian Studies de Londres.

Após as eleições, uma coisa Netanyahu não poderá evitar: seu julgamento por corrupção.