A decisão do presidente americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel “torna possível a paz”, defendeu nesta segunda-feira (11) o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, diante de uma União Europeia (UE) que considera a ação um obstáculo para o fim do conflito.

“Jerusalém é a capital de Israel, ninguém pode negar. (O reconhecimento) não evita a paz, torna a paz possível, porque reconhecer a realidade é o fundamento da paz”, disse Netanyahu em uma rápida declaração em Bruxelas após ser recebido pela chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

A visita de Netanyahu a Bruxelas, a primeira de um chefe de Governo israelense em mais de duas décadas, acontece em um momento de tensão após o reconhecimento, na quarta-feira da semana passada, por Trump da Cidade Santa como capital de Israel, uma decisão que rompe com décadas de diplomacia internacional.

Em 1980, uma lei israelense aprovou o status de Jerusalém como capital “eterna e indivisível” de Israel, depois que o país anexou em 1967 Jerusalém Oriental durante a Guerra dos Seis Dias.

No entanto, a ONU considera que o status final desta cidade deve ser negociado entre as partes.

Diante de Netanyahu, Mogherini recordou a posição da UE, a visão internacional mais ampla, de que a solução para o conflito passa pela criação de dois Estados com base nas fronteiras de 1967. Nos dois casos as capitais ficaria em Jerusalém.

Mas o chefe de Governo israelense considerou que os países europeus, “ou a maioria”, seguirão os passos de seu principal aliado, os Estados Unidos, e “irão transferir as suas embaixadas para Jerusalém e se comprometerão energicamente” com Israel a favor “da segurança, da prosperidade e da paz”.

“Ele pode guardar as suas expectativas para outros, porque por parte dos Estados-membros da UE esse gesto não acontecerá”, respondeu a chefe da diplomacia europeia em uma coletiva de imprensa após o encontro.

A decisão de Trump provocou uma nova onda de confrontos e protestos nos Territórios Palestinos. Desde quinta-feira, quatro palestinos morreram na Faixa de Gaza, dois em confrontos com soldados e dois integrantes do Hamas em ataques aéreos israelenses em resposta a disparos de foguetes a partir deste enclave.

– UE condena ataques contra judeus –

As relações entre Israel e UE passam por momentos difíceis, especialmente quando os europeus denunciam reiteradamente a colonização dos Territórios Palestinos e exigem um rótulo nos produtos que especifique se procedem das colônias, além de serem o principal doador de fundos da Autoridade Palestina.

O primeiro-ministro israelense criticou no sábado à noite antes de viajar a Paris, onde se reuniu no domingo com o presidente francês Emmanuel Macron, a “hipocrisia” e “os dois pesos e duas medidas” da UE, que denuncia a decisão de Trump, mas não “os disparos de foguetes contra Israel”.

“Permitam-me condenar da maneira mais forte possível todos os ataques contra judeus em todo o mundo, inclusive na Europa, em Israel e contra cidadãos israelenses”, disse Mogherini ao receber Netanyahu em Bruxelas antes de uma reunião com os chanceleres do bloco.

Na UE, uma dezena de pessoas lançou coquetéis molotov contra uma sinagoga em Gotemburgo, na Suécia. Um guarda da segurança israelense ficou gravemente ferido em Jerusalém após ser esfaqueado por um palestino.

A Comissão Europeia, o Executivo comunitário, também disse estar “impactada e indignada pela onda de ataques e manifestações antissemitas que estenderam o ódio contra os judeus nas cidades europeias nos últimos dias”.

– ‘Congelar a colonização’ –

Após se reunir com os chanceleres europeus, encontro que demorou uma hora a mais que o previsto, Netanyahu decidiu assegurar seu retorno a Israel de uma cidade paralisada por uma nevasca, fazendo com o que o encontro com o titular da Comissão, Jean-Claude Juncker, fosse cancelado.

O chefe da diplomacia lituana, Linas Linkevicius, que convidou Netanyahu, explicou que o objetivo era “facilitar o diálogo, que realmente não é fácil”, e abordar assuntos “como as colônias, ou a solução de dois Estados”.

A construção de milhares de casas nas colônias, na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental anexado, é para os europeus um dos principais obstáculos para acabar com décadas de conflito. Macron pediu a Netanyahu na véspera que “congele a colonização”, entre outras medidas para sair do ponto morto.

Alguns países da UE, entre eles a França, pediram no passado “compensações” a Netanyahu pela destruição por parte do Exército israelense de infraestruturas construídas para os palestinos na Cisjordânia por ONGs financiadas com recursos europeus.