Inaugurada em Dubai no dia 1º de outubro, a Expo 2020, nova edição da exposição universal, deve atrair 25 milhões de visitantes até o final de março. Traz obras arquitetônicas e inovações tecnológicas de 192 países representados em seus pavilhões. É o primeiro grande evento global do pós-pandemia (foi adiado por um ano), uma oportunidade única para os países se posicionarem. Mas o pavilhão construído pelo governo federal, em que pese seu elegante projeto arquitetônico, expressou uma concepção vazia recheada de palestras e fotografias enaltecedoras. Nada que se compare aos espaços ambiciosos de outros países, como a Alemanha (que deseja ser pioneira em inovação e energia sustentável) ou a China (que tentou capitalizar seu potencial tecnológico).

O conteúdo brasileiro veio, por enquanto, de São Paulo, por meio da InvestSP, agência de fomento ligada ao governo do estado, que montou um palco interativo e programou uma semana de apresentações de 150 artistas, com performances de street dance, grafites e concertos. Eles integram a comitiva da São Paulo Expo Dubai, que se estendeu de 24 a 31 de outubro no espaço, com custo de R$ 10 milhões, 60% obtidos por meio de patrocinadores.

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A parte empresarial ficou por conta de 43 executivos de 33 empresas que participaram da Missão Expo Dubai, também liderada pelo governador João Doria com seis secretários de Estado. Toda essa comitiva foi bancada pela iniciativa privada, com custo de R$ 4 milhões (com exceção de R$ 643 mil para bancar o deslocamento dos servidores). Com patrocínio de Ambev, BRF, JHSF, Natural One, Raízen e Sabesp, companhias de diversas áreas participaram de uma programação intensiva de contatos em Dubai, Sharjah e Abu Dhabi — três das sete unidades que compõem os Emirados Árabes Unidos, país que já representa a terceira maior economia do mundo árabe. Dubai tem nas últimas décadas cumprido a promessa de se transformar no maior hub comercial unindo Europa, Ásia e África.

A participação paulista na exposição coroa uma estratégia ousada e bem-sucedida implantada por Doria, também em franca oposição a Bolsonaro. O paulista já abriu três escritórios comerciais no exterior: em Xangai (em 2019), Dubai (2020) e Munique (este ano). O próximo será aberto em Nova York, no dia 2 de dezembro. O de Xangai viabilizou a parceria entre a farmacêutica Sinovac e o Instituto Butantã, que garantiu a vacinação aos brasileiros a partir de janeiro deste ano. Hoje, a unidade chinesa comemora a expansão de atividades na retomada após as paralisações causadas pela Covid.

O escritório de Dubai, aberto em fevereiro do ano passado, quando a pandemia explodiu, acabou mostrando sua utilidade exatamente por causa da doença. Virou centro de referência para os importadores do Oriente Médio, preocupados com a possível interrupção da remessa de alimentos pelos brasileiros (principal produto de exportação do Brasil). Esses contatos tornaram o escritório paulista na região, responsável por 28 países, em um polo de atração de novos negócios, garante a diretora do escritório da InvestSP em Dubai, Silvia Pierson.

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Esse modelo de representação no exterior é uma evolução histórica da estratégia do governo paulista, feito para se perpetuar mesmo com a transição de governos. É focado em resultados e custeado pelas próprias companhias. São 16 empresas-membros no momento em Dubai. Uma delas é a Agrimpex, fundada há apenas três anos, que atua no comércio internacional de alimentos e mercadorias. Sua CEO, Cecília Paifer, passou a colaborar com o escritório no começo do ano e já comemora os primeiros negócios fechados. “O retorno é fantástico”, disse. Ela também usa o escritório de Xangai, igualmente com retorno já constatado.

As oportunidades que já se abriram para o País apenas nos dois exemplos acima ampliam o contraste entre a atitude isolacionista federal e a visão pró-negócios do governador paulista. Como aconteceu com a Coronavac, também a participação na Expo 2020 virou um cabo de guerra entre Bolsonaro e seu rival.

Doria criticou as dificuldades que a delegação paulista enfrentou, apesar do sucesso de público do estande brasileiro com as performances de São Paulo. “É vergonhosa a atitude da Apex ao ignorar as ações que o estado está fazendo na Expo Dubai para promover o Brasil. Ao invés de somar e agregar, a Apex prefere dividir”, afirmou Doria, citando a agência federal de promoção de exportações que foi responsável pelo pavilhão brasileiro. Ainda assim, o governador aposta no sucesso da missão empresarial e anunciou, ao lado do CEO da Emirates, Ahmed bin Saeed Al Maktoum, a volta dos Airbus 380 (maior aeronave para passageiros do mundo) na rota Dubai-São Paulo. Bolsonaro deve visitar a Expo 2020 no dia 15 de novembro, mas terá outras prioridades: explicar a imagem de devastação ambiental que conseguiu imprimir em seu governo.