O presidente da Nec do Brasil, Renato Ishikawa, está com um tremendo problema nas mãos. Ao longo dos seus 18 anos de trabalho na filial da multinacional japonesa, o executivo viu a companhia viver tempos de glória, quando as encomendas da Telebrás para telefonia celular explodiram em 1990. Foi uma época em que a empresa atingiu a liderança do setor e foi responsável pela introdução do celular analógico no Brasil, no Rio de Janeiro. Tudo isso agora é passado. A privatização das operadoras de telefonia atraiu novos fornecedores de equipamentos, como a Lucent e agora a Siemens e Alcatel, o que está levando a companhia a viver tempos amargos. ?Deixamos de ter lucro para registrar um prejuízo de R$ 30 milhões em 1999 e R$ 300 milhões um ano depois?, admite Ishikawa. Pior: a Nec fez a aposta errada no tipo de sistema que seria adotado pelas futuras operadoras das bandas C, D e E. Previa que o governo escolheria o sistema norte-americano CDMA, mas quem venceu a disputa foi o europeu GSM, onde não domina a tecnologia. Qual é então a saída para uma companhia que parece não ter motivos para ver a luz no fim do túnel? ?Novas soluções?, garante Ishikawa. Os primeiros passos já começaram a ser dados, e a expectativa é de que podem dar frutos neste ano.

A grande arma da Nec é o que a empresa chama de Progressive Unit. De fato, pode ser uma mina de ouro. Companhias como a Telefônica, Telemar e Embratel iniciaram testes com o sistema, que permite aos usuários de telefones fixos ou móveis ficar on-line na Internet, sem precisar pagar o tempo ocioso em que não navegam. ?Trata-se da fórmula do futuro nas telecomunicações. Quem estiver ligado à rede mundial de computadores pagará tarifas apenas no momento em que acessar outro site, pois a troca de dados entre operadoras e usuários será racionalizado via pacotes.? Além de descongestionar linhas, a Nec estima que haverá uma redução em 20% nos preços dos novos equipamentos. Mas a empresa japonesa não está sozinha neste negócio. Ericsson, Cisco e mesmo Promon, entre outras empresas, têm sistemas similares. As concorrências nas operadoras estão em curso. Os vencedores serão anunciados até o início de 2002.

Mesmo sem a certeza do sucesso de sua estratégia, a filial da empresa, localizada em Guarulhos, aposta em uma pequena retomada dos lucros em 2001, graças à venda de equipamentos de telefonia fixa. As operadoras estão em uma corrida para se antecipar às metas estabelecidas pela Anatel. ?Temos um recorde de vendas de equipamentos, equivalente a 4,8 milhões de linhas por mês?. Esta demanda deve garantir um pequeno lucro de R$ 50 milhões, e o faturamento pode chegar a R$ 2 bilhões. Outra esperança da empresa a médio prazo são os celulares de terceira geração. Só que estes equipamentos devem entrar em uso após janeiro de 2004. Até lá, a filial terá de penar muito para ganhar mercado.