Poucos setores sofreram tanto os impactos da pandemia do coronavírus quanto o turismo. Segundo a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas (OMT), os prejuízos globais do segmento já estavam em torno de US$ 320 bilhões no início de agosto. No Brasil, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que os danos sejam de cerca de R$ 100 bilhões. No meio desse mar de notícias negativas, ao menos uma área ligada ao setor tem apresentado resiliência: a de locação de barcos. As primeiras boas novas vêm justamente da Europa, parte do mundo que tanto sofreu – e segue sofrendo – os efeitos da Covid-19. Entre julho e agosto deste ano, meses do verão europeu, a startup espanhola Nautal, que conecta proprietários de embarcações a viajantes interessandos em alugá-las, registrou crescimento de 55% nas locações realizadas na Espanha, na comparação com
o mesmo período de 2019. Em toda a Europa, essa alta foi de 35%.

Segundo o espanhol Octavi Uyà, CEO da Nautal, a pandemia trouxe mudanças no comportamento dos clientes desse tipo de serviço. “No ano passado, a maioria dos turistas náuticos que optou por sair para navegar tinha o objetivo de relaxar ou de explorar novos destinos”, disse Uyà. “Nesta temporada, aproveitar o mar e o bom tempo com distanciamento social e longe das multidões têm se somado às principais motivações na hora de alugar um barco”. Agora, ele espera que o mesmo movimento de alta aconteça em outros países, inclusive em mares brasileiros. “Pela extensão de sua costa e riqueza natural, o Brasil é um mercado com enorme potencial náutico”. Para aproveitar a maré ao lado da Nautal, que está presente em quase 70 países – como Austrália, Brasil, Croácia, Estados Unidos, Grécia e México –, a francesa Click & Boat embarcou na ideia e articulou uma sólida parceria com a espanhola. Juntas, as companhias têm 200 funcionários (150 da Click&Boat e 50 da Nautal), mais de 31 mil barcos espalhados pelo planeta e esperam movimentar 100 milhões de euros no mundo em 2021, o dobro do montante alcançado no ano passado.

“Planejamos aumetar a quantidade de barcos para aluguel no Brasil (hoje, são 400). Estamos trabalhando duro para suprir a grande demanda que esperamos no País” Octavi Uyà, CEO da Nautal. (Crédito:Divulgação)

Ambas as empresas enxergam o Brasil como um mercado promissor, com potencial para crescer até mais do que o Velho Mundo. “Não é possível comparar dados do mercado brasileiro neste momento, já que ainda estamos em um período prévio ao verão, que é a fase mais importante para o setor”, afirmou Uyà. “Nossas previsões para o mercado nacional são baseadas no fato de que, mesmo em um período de menor demanda e no pico da crise da Covid-19, as visitas e buscas por barcos de aluguel no Brasil registraram crescimento”. Para o executivo, a possibilidade de ter uma experiência única, exclusiva e prazerosa, em plena pandemia, sem abrir mão da segurança e respeitando as regras de distanciamento social, é um diferencial que favorecerá o aumento da procura por aluguéis de barcos no País. “Por tudo isso, estamos seguros de que o setor náutico brasileiro terá uma evolução superior à que tivemos na Europa”, afirmou.

PARA TODOS OS BOLSOS As diárias variam de R$ 500 a R$ 78 mil, dependendo do tipo do barco, tamanho e outros fatores. Um veleiro para oito pessoas, por exemplo, custa cerca de R$ 1,5 mil por dia. (Crédito:Gilberto Mesquita )

MOEDA NACIONAL Outro fator apontado como positivo para o negócio no Brasil é a diversidade de preços para a locação dos barcos, com valores que variam de R$ 500 a R$ 78 mil a diária. Tudo depende do tipo da embarcação, da região em que o negócio é fechado, da época do ano e dos adicionais incluídos. O aluguel de um veleiro em Angra dos Reis (RJ) com duas cabines, banheiro, capacidade para oito pessoas e marinheiro incluso, por exemplo, custa cerca de R$ 1,5 mil por dia. À disposição do público brasileiro, a Nautal e a Click & Boat dispõem de 400 embarcações, que podem ser alugadas no site nautal.com.br . Presente no Brasil há um ano, a companhia acaba de implementar um novo método de pagamento no País, por meio da fintech brasileira Ebanx, pela qual a operação é efetuada em moeda nacional – antes, era só em euro – e sem cobrança de taxas extras. “E planejamos aumentar a quantidade de barcos para aluguel no Brasil. Estamos trabalhando duro para suprir a grande demanda que esperamos no País”, disse Uyà.