Pouca gente sabe que o estaleiro Intermarine foi criado pelo mesmo empresário que popularizou no Brasil o consumo de suplementos alimentares. Em 1973, Dirceu Fontoura, então presidente da Medicamenta Fontoura, responsável pelo famoso “biotônico” Fontoura, deu origem a uma oficina para construir barcos no tradicional bairro do Brás, em São Paulo. O mercado, na época, era bastante defasado. Internamente, existia pouca concorrência e, no âmbito externo, a política protecionista impedia as importações. O cenário favoreceu o crescimento da empresa, mas em 1984 Fontoura buscava um novo dono para o negócio. Gilberto Ramalho, já cliente da Intermarine e amigo de Fontoura, assumiu o desafio. Era um apaixonado por mar e costumava navegar a bordo da Panther, primeira embarcação fabricada pela Intermarine que reinou nos mares brasileiros nas décadas de 70 e 80 como lancha de alta performance.

Durante os 25 anos sob a gestão de Ramalho, a Intermarine alcançou sucesso no mercado nacional e internacional por conta de suas embarcações. O foco eram barcos menores, velozes, e opções de entrada acessíveis aos apaixonados pelo mar. Hoje, no entanto, com a filha mais nova de Gilberto, Roberta Ramalho, à frente do negócio, a Intermarine começa a navegar por outros mares. A empresa passou a apostar na fabricação de barcos maiores, acima de 45 pés (13 metros), e ainda mais luxuosos. Desde que Roberta assumiu a empresa já foram lançadas mais de dez embarcações.

O 24 Metros, por exemplo, um dos destaques da São Paulo Boat Show (feira do setor náutico que vai até o dia 24 de setembro, na capital paulista) é o maior iate já fabricado no Brasil e possui tecnologias nunca antes usadas em embarcações nacionais. Entre as dez inovações a bordo há uma pequena estação de tratamento de esgoto, um módulo de direção eletrônica que controla o sistema hidráulico da embarcação para garantir maior segurança, e o sistema de estabilização speaker, que reduz o balanço do barco em até 95% para aumentar o conforto dos passageiros.

Roberta Ramalho, presidente da Intermarine: “Somos uma empresa nacional, mas nossa visão de negócios é global” (Crédito:Divulgação)

Parceira de longa data do angolano Luiz de Basto, designer náutico reconhecido mundialmente, a Intermarine também está lançando um novo conceito de embarcação. “Esse projeto foge completamente do que já existe hoje no mercado global”, diz Roberta. Com 65 pés, o barco, segundo ela, será como um aquário. “A região do salão (parte central) será toda de vidro, desde o início do pé direito até o chão. A ideia é proporcionar ao cliente mais proximidade ao mar e à natureza.” O Angra, como foi batizado por Luiz e Roberta, ainda está em fase de construção. Além do design inovador, trará um sistema de energia solar para o funcionamento de seus componentes eletroeletrônicos, como a geladeira e o ar-condicionado. “No Brasil não existe nenhum barco com esse conjunto de propostas do Angra”, diz Roberta.

Como ainda está em fase de projeto, ainda não é possível saber sua velocidade máxima e nem a de cruzeiro. O que se sabe é que terá um flybridge maior e a proa mais baixa, proporcionando proximidade com o mar. “Nossos clientes usam o barco para lazer, para estar com a família e em contato com a natureza”, afirma. Roberta diz que ainda não sabe precisar o valor da embarcação. Além do 24 Metros e do Angra, a Intermarine está lançando o Intermarine 45 (com 13,7 metros, que incrementa a linha Flybridge); o 58 Offshore (modelo superesportivo com a novidade do volante multifuncional, que traz para o barco um elemento característico dos automóveis); e o Intermarine 62 e o 56, que chegam com o diferencial de maior flybridge da categoria.

Velocidade de cruzeiro: no ano passado, a indústria náutica brasileira fechou com um faturamento de US$ 800 milhões e a expectativa é chegar a US$ 1,5 bi até 2020 (Crédito:Divulgação)

No ano passado, a indústria náutica brasileira fechou com faturamento de US$ 800 milhões. A expectativa é que esse número aumente para US$ 1,5 bilhão até 2020, segundo a Associação Brasileira de Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar). Apesar das boas perspectivas, o setor sofreu um período de estagnação durante a recessão econômica. “A partir de 2009 começamos a sentir o mercado naútico desaquecido e o efeito das indústrias internacionais desovando seus estoques por aqui”, diz Roberta. “Mas esse período foi bom para a gente repensar nossos processos internos e externos e na inovação.”

A Intermarine, empresa familiar, não divulga seu faturamento, mas estima um crescimento aproximado de 20% em 2019, em especial pelo lançamento do 24 Metros. “Enxergamos um aumento no número de pés vendidos por ano, isso se dá por conta do natural amadurecimento do mercado e da linha Intermarine”, diz Roberta. A frota de embarcações de lazer no Brasil é de aproximadamente 814,5 mil unidades. “Hoje por mais que sejamos uma empresa nacional, a nossa visão de negócio é global”, diz Roberta. Competir com os gigantes internacionais não é fácil, mas a Intermarine não descarta, no futuro a exportação de suas embarcações luxuosas com toque brasileiro.