Principal opositor de Vladimir Putin e aguerrido ativista contra a corrupção das elites russas, Alexei Navalni está decidido a seguir enfrentando o Kremlin após ter sobrevivido a um envenenamento, e voltou neste domingo (17) à Rússia, onde já foi detido.

“Estou aqui em casa. Não tenho medo (…), pois sei que tenho razão e que os casos contra mim foram completamente montados. Não tenho medo de nada”, declarou Navalni ao chegar a Moscou, pouco antes de sua detenção.

Este advogado de 44 anos, que estava em convalescença desde o ano passado na Alemanha, decidiu voltar à Rússia apesar das ameaças de detenção dos serviços penitenciários russos e do risco à sua segurança.

Este retorno parecia quase impossível em agosto, quando o opositor carismático chegou a Berlim a bordo de um avião com equipamentos médicos. Dias antes, ele tinha adoecido subitamente em um avião na Sibéria e ficou 48 horas internado em um hospital russo.

Após três semanas em coma, três laboratórios europeus concluíram que o principal opositor russo foi vítima de uma substância neurotóxica do grupo do Novichok, criada na era soviética para fins militares.

Após sobreviver a esta suposta tentativa de assassinato, Navalni não demorou a contra-atacar. Em meados de dezembro, divulgou uma conversa telefônica na qual desmascarou um dos agentes dos serviços de segurança russa (FSB) para que admitisse que quiseram envenená-lo.

Para o opositor, o envenenamento foi orquestrado sob a ordem direta do presidente Vladimir Putin, seu inimigo declarado, que nunca pronuncia seu nome. O presidente rejeita todas as acusações.

– Investigações e eleições –

Ignorado pela mídia em seu país, sem representação no Parlamento e sem a possibilidade de se apresentar como candidato a partir de uma condenação por fraude fiscal que ele denuncia como política, Navalni continua sendo a voz mais potente da oposição russa.

Há anos, luta contra o partido do Kremlin, o Rússia Unida, à qual ele tacha de formação dos “ladrões e fraudadores”. Seus vídeos no YouTube – onde tem mais de 4,8 milhões de seguidores – têm muita audiência e suas investigações sobre a corrupção das elites somam dezenas de milhões de visualizações.

O opositor e seu Fundo de Luta contra a Corrupção (FBK), criado em 2012, permanecem na alça de mira das autoridades.

Para Navalni, tratam-se de represálias por ter organizado um movimento de protesto em 2019, antes das eleições em Moscou.

Foi nas eleições legislativas de dezembro de 2011, que geraram uma onda de protestos, que este ativista ganhou notoriedade e se destacou pelo carisma e pela virulência de seus ataques ao Kremlin.

Em setembro de 2013 obteve seu primeiro êxito eleitoral nas municipais de Moscou. Ele surpreendeu ao ficar em segundo lugar, com 27,2% dos votos, atrás do prefeito em fim de mandato, o ex-chefe de gabinete de Putin, Serguei Sobianin, um resultado que o confirmou como uma figura essencial da oposição.

Em seu início, Navalni também participou de manifestações com tons racistas, como as da Marcha Russa. No entanto, nos últimos anos, se distanciou destes movimentos e foi apagando progressivamente o tom nacionalista de seus discursos.

Desde 2007, o advogado combateu o governo, comprando ações em grupos semipúblicos, como a petroleira Rosneft e a gigante do gás Gazprom. Amparando-se em seu estatuto de acionista minoritário, exige transparência nas contas.

Desde 2013, este pai de dois filhos foi condenado a duas penas de prisão em suspenso por dois casos de desvio de recursos que ele tacha de políticos e que motivaram a recusa à sua candidatura até 2028.

Também passou pela prisão em várias ocasiões, por infrações contra a legislação sobre as manifestações.

Sempre rejeitou suas condenações judiciais e assegura que nada pode acabar com sua motivação, nem mesmo as ameaças contra sua segurança e a de sua família.

“Eu me dedico à política há muito tempo, com frequência sou detido (…), faz parte da vida”, relativiza. “Faço o trabalho que prefiro, as pessoas me apoiam, tenho muitos simpatizantes. O que mais pode fazer um homem feliz?”.