A Natura caminha para se consolidar como a quarta maior empresa de cosmética do mundo, cultivando uma imagem de respeito à biodiversidade e de tipos de beleza “livres de estereótipos”, afirma seu presidente, João Paulo Ferreira.

O fundador do grupo, Luis Seabra, abriu sua primeira loja em 1969 em São Paulo e se expandiu inicialmente com um modelo de venda direta.

Desde então, Seabra se tornou um dos homens mais ricos do Brasil e a Natura&CO se implantou em 73 países, onde emprega 32.000 pessoas (6.600 no Brasil).

Em 2018, seu faturamento totalizou 13,4 bilhões de reais, uma alta de 35%.

Seu lucro líquido caiu 18% (a 584,4 milhões de reais) devido, em parte, à absorção da dívida da britânica The Body Shop, adquirida em 2017.

Este ano, a Natura adquiriu o controle acionário da americana Avon. Se a operação for aprovada, ela se tornará a quarto líder mundial do setor, atrás da francesa L’Oréal, da americana Procter & Gamble e da britânica-holandesa Unilever.

Os investidores apoiam essa estratégia: nos últimos doze meses, a valorização da Natura na Bolsa de São Paulo duplicou.

– Essências da Amazônia –

Para Ferreira, a diversidade brasileira foi crucial para o sucesso da Natura. Além de um enorme e variado mercado, o país conta com uma reserva infinita de essências na floresta amazônica, e o grupo trabalha em cooperação com as comunidades locais.

“A Amazônia é um patrimônio do planeta, que por sorte, grande parte está no Brasil e nós temos acesso a isso”, disse Ferreira em uma entrevista à AFP na sede da empresa no estado de São Paulo.

A Natura “mostrou na prática que é possível conciliar progresso econômico e proteção ambiental e desenvolvimento social”, garante o empresário, em um contexto tenso no Brasil em torno da política ambiental do presidente Jair Bolsonaro.

“Esperamos que passados os momentos de polarização atuais, consigamos promover o diálogo” entre governo, agricultores, comunidades e ONGs afirma Ferreira.

“Temos exemplos interessantes desta conciliação”, acrescenta, em uma sala de conferências onde estão expostos vários produtos do catálogo.

O executivo afirma que as operações da Natura contribuíram para preservar 1,8 milhão de hectares. “Quase metade da Holanda”, diz.

Para exemplificar, explica que a inclusão da ucuuba, fruto de uma árvore amazônica, em seus laboratórios triplicou a renda das comunidades em que a espécie se encontra, coletando seu fruto sem cortar a árvore, como costumava fazer há cerca de duas décadas. “Isso ilustra a possibilidade de gerar riqueza mantendo a floresta em pé”, insiste.

Em 2015, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) deu à Natura o prêmio “Campeões da Terra” por seu modelo empresarial, considerando um “exemplo brilhante de como a sustentabilidade e o espírito empreendedor andam de mãos dadas”.

Mas esse modelo enfrenta o “desafio de operar em um mercado regido pela lógica do crescimento constante”, alerta Paulo Branco, vice-coordenador do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A Natura “é uma empresa pioneira no Brasil”, mas “como manter esse crescimento adaptando sua produção ao apoio do ecossistema e ao respeito pelas comunidades?”, pergunta. Isso é “um dilema constante”, ressalta.

– Internacionalização e diversidade –

“Até dez anos atrás 95% de nosso negócio estava no Brasil. Depois, ao longo dessa ultima década, nossos negócios em América Latina cresceram enormemente e fizeram que um terço do negócio da Natura estivesse fora do Brasil”, indica Ferreira.

A marca agora aposta em um conceito de beleza “livre de estereótipos”, algo que fica claro em suas peças publicitárias sem padrão de beleza específico.

Suas propagandas recentes convidam as mulheres a “viver a vida sem vergonha” e a ser “muito mais que um rótulo”.

“Os consumidores vão ficando mais conscientes de alguns temas, seja do seu próprio corpo, seja de demandas institucionais da ação e da atitude de marcas”, diz Ferreira, otimista.