O crescente número de pessoas físicas entrando no mercado de capitais – estimulado pelas opções com risco moderado, flexibilidade na injeção de capital ou insatisfação com a baixa remuneração da poupança – consolidou um amplo, e muito promissor, mercado para os que desejam investir em títulos privados isentos de Imposto de Renda. Entre os queridinhos aparececem papéis do mercado imobiliário até os de obras de infraestrutura, o que abre boas oportunidades para os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI).

Para André Catrocchio, sócio e diretor de relações com investidores, risco e compliance da Hectare Capital, o mercado vive uma mudança. “No passado, empresas com possibilidade de emitir esses certificados enfrentavam dificuldade de captar recursos devido às altas taxas de retorno oferecidas pelos títulos federais e alto prêmio de risco requerido pelos investidores”, diz. “Hoje o cenário se mostra mais favorável com a redução da taxa básica de juros e do prêmio de risco de crédito (spread). Além disso, o avanço do mercado de fundos imobiliários permitiu que as ofertas de CRIs, antes restritas a investidores profissionais e institucionais, pudessem ser acessadas indiretamente pelos pequenos investidores através de um veículo de investimento mais seguro, com maior liquidez e investimento mínimo menor.”

De opinião similar partilha Bruno Eiras, CEO e diretor de gestão da Devant Asset. “Haverá um aumento de investimentos, fazendo com que as empresas passem a captar mais no mercado de capitais via fundos de debêntures incentivadas de infraestrutura e via CRIs”, afirma. Daniel Celante, da ALL Investimentos, avalia que a alta está ligada à decepção com os investimentos tradicionais. “O destaque negativo de 2019 foram o CDI e a poupança, com rentabilidade acumulada de 5,72% e 3,95% até 12 de dezembro.”

E é com as CRIs que Juliana Mello, sócia-diretora da securitizadora Fortesec, colhe bons frutos. “Devemos fechar 2019 com um crescimento próximo a 100% em relação a 2018 e com a expectativa de manter esse ritmo”. Com a Selic baixa, Artur Schneider, responsável pela área de renda fixa da Monte Bravo, lembra que a pessoa física buscou alternativas de investimento, mas é a manutenção da baixa e “o otimismo de que não haverá um novo ciclo de alta dos juros” que sustentam o movimento.
Outra boa alternativa de investimento é o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Daniel Celante, responsável pela mesa de renda fixa da ALL Investimentos, diz que os créditos agrícolas, assim como todos os títulos de renda fixa, tiveram ótima performance em 2019 devido à curva de juros no Brasil. “Apesar de entendermos que foi um movimento pontual, estamos otimistas que os produtos financeiros ligados ao setor (LCAs, CRAs) ainda serão boa alternativa para o investidor.” Já Juliano Cornacchia, CEO da Vórtx, lembra que esse papel é um dos preferidos do brasileiro. “As pessoas físicas devem continuar como propulsoras do financiamento do agronegócio”. Movimento similar foi visto nas securitizadoras. Juliana Mello, afirma que “os principais investidores dos papéis emitidos pela Fortesec são institucionais, mas vemos cada vez mais interesse de pessoas físicas. Não por acaso, vemos fundos fazendo follow on e captações recordes, sem contar a existência de mercado secundário para CRI e CRA, o que há pouco tempo era quase inexistente”.

Para os empresários que pretendem emitir esse tipo de dívida, Artur Schneider, da Monte Bravo, ressalta ser importante entender que o “lastro” é feito com operações vinculadas ao agro, e hoje essas empresas estão autorizadas a emitir dívidas por Debêntures Incentivadas. “Portanto é natural que tenhamos uma diminuição da nomenclatura para o mercado e emissão aos investidores, porém o cenário de emissão de dívida como um todo não deve ser afetado já que os valores estão sendo apenas migrados e não extintos”.

Outro ativo em alta são os que envolvem Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC). Segundo Luis Eduardo da Costa Carvalho, presidente da Associação Nacional dos Participantes em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios Multicedentes e Multissacados (ANFIDC) a demanda vai subir. “A queda da Selic obriga investidores a repensarem seus ativos. Deve-se elevar o risco para tentar manter o mesmo nível de retorno e as cotas de FIDCs, mesmo não sendo isentas de IR, são excelentes”. Do outro lado do balcão, ele avalia que haverá busca cada vez maior das empresas por crédito. “A elevada concentração no mercado bancário tornou os FIDCs opção para empresas que buscam antecipar seus recebíveis.” Só em novembro, os FIDCs movimentaram R$ 29,8 bilhões, segundo a Anbima.

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