DINHEIRO – O senhor foi cabo eleitoral do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL). Teria algum privilégio com essa aproximação?
Luciano Hang – Nenhum. Quando entrei na política como um ativista no dia 5 de janeiro do ano passado, procurava um candidato que eu pudesse apoiar. Conversei com ele algumas vezes. Dentre todos os candidatos, ele tinha duas coisas que me interessavam: liberalismo econômico e o conservadorismo nos costumes. O nosso maior problema não é a economia, é um problema de ideologia. E a ideologia é o que forma a cultura, o que forma as metas. Como a nossa ideologia é marxista e “gramscista”, a cultura estava errada e as metas saíam tortas. Passados três meses da administração, eu vejo que o Bolsonaro faz coisas tanto para a economia quanto para os costumes. É o que eu apoio. E vou continuar apoiando, desde que as medidas estejam de acordo com os meus princípios. A partir do momento em que sentir que alguma coisa não está da forma como eu penso, também vou criticar. Tenho dito que não tenho político de estimação, nem partido político. O meu partido é o Brasil. Eu não vendo para o governo. Eu não tenho interesse em nada do governo.

Como o senhor vê esse movimento dos empresários cada vez mais ativos na política?
Eu acho que o Brasil mudou no ano passado. Não foram só os empresários que começaram a sair de cima do muro. As pessoas, independentemente da idade ou da classe social, estão entendendo mais sobre política. Eles sabem que foram enganados durante os últimos 30 anos. Eles querem mudanças nesse país, querem empregos para os seus filhos. Os estudantes que se formam não têm mais onde trabalhar. O Brasil quebrou. Em 2015, a Dilma Rousseff quebrou o Brasil. A Havan demitiu, naquela época, cinco mil colaboradores. O Brasil dizimou mais de 1 milhão de empresas. Nós estamos começando tudo do zero novamente. O que eu mais recebo [em aberturas de lojas] são cartas de pessoas pedindo emprego. O Brasil está quebrado. Nós precisamos acreditar e começar novamente a construir uma nação, com educação de qualidade, sem viés ideológico. Nada de marxismo cultural. Eu acredito no liberalismo econômico como forma de libertarmos o nosso país.

O senhor foi cogitado como vice-presidente de Jair Bolsonaro (PSL) e, posteriormente, como possível ministro do governo. Houve alguma proposta?
Não tive proposta. Quando falei, no dia 5 de janeiro do ano passado, que eu seria um ativista político, as pessoas achavam que eu seria governador ou senador. Na época, o Bolsonaro ligou para mim e disse: “Luciano, não queres ser governador?” Eu disse que não. “Tu não queres ser senador?” Eu disse que não. Mas respondi: “Eu quero falar com você. Eu quero saber o que você pensa. Eu quero entender você.” Aí tivemos as primeiras reuniões. Ele nunca me ofereceu o cargo de vice-presidente. Mas a mídia fala, as coisas saem. E sou um ativista político e vou continuar sendo. Não porque eu quero um cargo público, mas porque eu quero arrumar o Brasil.

O jornal Folha de S. Paulo denunciou, em outubro de 2018, que o senhor teria comprado pacotes de disparos de mensagens contra o PT pelo Whatsapp…
Nem sei como funciona isso, nem sabia que existia uma forma de impulsionar o Whatsapp. Eu tenho no meu celular mais ou menos 5.000 contatos de amigos que tenho há muito tempo. São grupos de empresários, grupos de amigos, grupos de de estudantes. O que eu fazia [na época das eleições] era gravar vídeos fortes, com grande penetração, e os disparava na minha lista de contatos. E isso foi se expandindo numa proporção geométrica. Eu falei para a Folha de S. Paulo que a reportagem deles não condizia com a realidade. Mesmo assim, eles colocaram e agora estão sendo processados por causa disso.

Recentemente, o PSL, partido do presidente, se viu envolto em uma crise ligada a “candidatos-laranjas”. Se acontecer alguma denúncia ao presidente e ao PSL, qual será a sua posição?
Se está errado, pague a conta. Não importa quem é. Quando teve o problema dos “laranjas”, em janeiro deste ano, eu estava fora. Passei 15 dias no exterior e não me aprofundei no caso porque estava de férias. Me disseram que existe no Brasil uma cota para mulheres na política. Todos os partidos acabam pegando candidatas para cumprir essa cota. Primeiro: isso é mais uma lei idiota. Colocaram cota para tudo no País. Eu digo que as leis tortas entortam o cidadão de bem, que acaba tendo que fazer ilegalidades para cumprir a lei. Sempre que houver uma lei torta e idiota, nós temos que acabar com essa lei, senão as pessoas de bem e o cidadão comum são obrigados a descumprir a lei.

Mas o senhor aprova essa postura?
Não. Sobre a crise dos “laranjas”, se houve algum problema, que tenha punição. Não importa qual o partido e quem são as pessoas. Eu não entrei nessa política porque tinha um candidato ou um partido. Eu defendi a mudança radical do Brasil.

A Havan é uma empresa que prega o patriotismo. Ter uma estátua da liberdade à frente de cada loja não chega a ser contraditório com essa filosofia?
A Havan tem quase 95% de produtos nacionais. Menos de 10% é importado. O patriotismo tem a ver com aquilo que você sente pelo seu país. Eu amo o Brasil, mas gostaria que fosse economicamente e culturalmente igual aos Estados Unidos. A estátua da liberdade foi um presente da França para os Estados Unidos e exprime aquilo que tem de melhor numa sociedade: a liberdade. Quando vou abrir uma loja, tenho que pedir autorização para sindicatos para poder trabalhar nos domingos e feriados. A liberalidade que o povo deveria ter para desenvolver o país, nós ainda não temos. Eu digo que o Brasil é um país comunista porque tudo que você vai fazer depende de uma autorização de órgão público. O que existe de leis idiotas nesse país é uma coisa impressionante. A maioria delas é feita para beneficiar a burocracia estatal ou os políticos. Nós precisamos mudar isso.