Alguém precisa avisar ao presidente Jair Bolsonaro que dinheiro não dá em árvore. Ele desprezou recursos internacionais para fins de proteção ao ambiente, tripudiou de parceiros comerciais estratégicos como a China e a Liga Árabe, que colocam uma penca de recursos por aqui e, desde que assumiu, não mexeu uma palha no sentido de estimular a geração de investimento das empresas, que andam mais desconfiadas e travadas em seus projetos do que nunca. Agora passou a falar que o dinheiro acabou, que seus ministros estão apavorados, que o orçamento está estrangulado, a choradeira com a qual em parte tenta justificar a recessão batendo à porta.

No diagnóstico o capitão está correto: estudos indicam o colapso dos investimentos no Brasil. Os capitais para ampliar a produção caíram ao menor nível dos últimos 70 anos em alguns setores. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostra que a taxa de investimentos em máquinas e equipamentos, setor que alavanca a economia como um todo, desceu a um nível crítico de meros 6,1% do PIB. Na Construção Civil o índice é o pior já registrado desde 1948, da ordem de 7,5%. Não bastassem as inversões internas reduzidas, a saída de recursos internacionais da bolsa de valores acaba de alcançar o maior índice já registrado em 23 anos.

Os estrangeiros tiraram daqui cerca de R$ 19,1 bilhões entre janeiro e agosto deste ano. É fuga de capitais na veia. O pior semestre já verificado nesse sentido desde 1996. Os saques denotam fundamentalmente um temor de crise global e a procura por ativos mais seguros. De todo modo, a instabilidade econômica interna e as constantes confusões geradas pelo chefe da Nação provocaram receios adicionais no mercado. Para reagir a essa onda é fundamental o estabelecimento imediato de regras claras, a conclusão das reformas e o estímulo a um ambiente mais favorável para investimentos.

O anúncio do pacote de privatizações na semana passada foi um passo nesse sentido, mas o complexo processo de estruturação das vendas pode retardar a reação. Do mesmo modo, a MP da Liberdade Econômica, recém-aprovada, tem prazo de maturação considerado lento. Em meio ao medo global, talvez o melhor sinal para transmitir segurança aos agentes seria o do entendimento do mandatário com os poderes constituídos.

A briga em especial com o Congresso tende a aumentar as incertezas, em um efeito bola de neve. Os recentes conflitos do Governo com entidades como a Receita Federal, o Coaf e a PF também transmitiram uma péssima imagem do País, visto segundo alguns analistas como um local que não gosta de seguir as regras vigentes. Nesse caso, são necessárias mudanças de postura o quanto antes para que o dinheiro volte a brotar.

(Nota publicada na Edição 1135 da Revista Dinheiro)