O irlandês Seán Meehan assumiu, em janeiro deste ano, a reitoria do curso de MBA do Institute for Management Development (IMD), tradicional escola suíça de negócios e uma das três mais prestigiadas do mundo. Doutor pela London Business School, ele participou de diversos programas de desenvolvimento gerencial para companhias como Air France, Caterpillar, MasterCard, Mitsubishi Chemical, Toyota, Vodafone, GE, entre outras. Seu desafio é fazer com que os alunos entendam que os negócios das grandes empresas impactam diretamente na demanda da sociedade global.

Como deverá ser o perfil do profissional do futuro?
O líder do futuro deve ser veloz, ágil, humilde, estudioso, carismático. Esses líderes precisarão ter uma visão sólida das capacidades tecnológicas, dos regulamentos exigidos e, acima de tudo, eles deverão ser sensíveis à nossa sociedade.

Por que eles precisam desenvolver essa sensibilidade?
Porque a maior mudança para as pessoas que estão se desenvolvendo hoje é que elas devem entender que não vão para a empresa para viver em isolamento. Os profissionais do futuro transformarão nossa sociedade. Cabe a todos eles, e aos líderes dessas instituições, tentar descobrir como teremos uma melhor distribuição da riqueza e como teremos uma melhor influência no desenvolvimento positivo da sociedade.

Com o aumento da automatização, como agir para não ficar sem emprego?
É um grande desafio pensar nessa transição. As empresas introduzirão a robótica, com certeza. Haverá automatização e robótica. A inteligência artificial também irá substituir muitos trabalhadores capazes, não há dúvidas sobre isso. Mas a Era Digital não está madura. Ela ainda está crescendo e creio que continuará a crescer, até para criar indústrias que ainda nem pensamos. Do mesmo jeito como a industrialização criou novas indústrias e novas oportunidades, teremos novas coisas para trabalhar.

O que será mais fácil: investir em aperfeiçoamento para buscar emprego ou criar seu próprio trabalho?
Ambos. Claro que nem todo mundo criará o seu próprio emprego, é loucura imaginar isso. Porém, teremos aqueles extraordinários, imaginativos e inovadores que irão criar empregos. Eles irão descobrir novas maneiras de fazer as coisas e construirão companhias que precisarão de mais pessoas.

Como o sr. avalia o surgimento de empresas disruptivas, como o Uber? Já existe uma onda pós-Uber?
Por que não? A humanidade é muito habilidosa em termos de desenvolver a próxima novidade. Considerando o que já foi criado, tenho certeza que teremos mais criações. Mas será difícil prever o que será.

É possível inovar constantemente?
Sim, as empresas têm de se renovar constantemente. Se elas não mantiverem o ritmo para cada desenvolvimento ou, pelo menos, se elas não levarem em consideração fatores como estratégia, posição no mercado e construção de plataformas flexíveis, estarão perdidas. Se o mercado está se movendo três vezes mais rápido do que os indivíduos, não sei como as empresas poderão ter êxito sem inovação.

Como e onde buscar essa inovação?
Há algumas lições típicas sobre inovações, como a visão do cliente e como a tecnologia pode impactar o seu sistema de negócio ou o de seus fornecedores. Por isso, produtos e serviços estão no centro desses sistemas e é onde os clientes sentem o impacto da inovação.

Quais empresas têm conseguido se adaptar a essas mudanças?
Quando se olha para as empresas mais tradicionais no setor financeiro, podemos ver empresas com o ING, na Europa, e o DBS Development Bank, de Cingapura. Houve um momento em que esses bancos, provavelmente, se preocuparam mais com o Citibank ou o HSBC. Mas agora pensam mais em Alibaba, que também atua no setor financeiro. O ING e o DBS passaram de bancos nacionais tradicionais, que há menos de dez anos eram um departamento do governo, a empresas reconhecidas como digitais.

Quais são, hoje, os principais desafios de uma empresa global?
No mercado global, o que certamente precisamos estar cientes é que a tecnologia possibilita a globalização. Contudo, há uma situação curiosa: hoje, os políticos do mundo parecem adotar um comportamento egocêntrico, enquanto a tecnologia nos habilita a ter um comportamento de olhar para fora. Os reguladores dos governos não estão facilitando o comércio global.

Se os políticos não colaboram, isso significa uma ameaça à globalização?
Sim, claro. Há um tremendo movimento político indo nessa direção e eu sinto que é um movimento equivocado. Entretanto, não podemos deixar que essa visão egocêntrica acabe com o desenvolvimento da tecnologia, com a maneira em que transferimos informações e nem com a transparência sobre os governos.