Aos 90 anos, José Gregori define a contribuição dada por ele à formulação do Programa Nacional dos Direitos Humanos como a mais importante que pôde oferecer ao País. Na chefia de gabinete do então ministro da Justiça, Nelson Jobim, ele foi designado por Fernando Henrique para essa missão.

O senhor observa que as políticas atuais de direitos humanos estão como o senhor vislumbrava 25 anos atrás?

Tínhamos o desejo real de estabelecer para o Brasil uma espécie de liderança latino-americana para os direitos humanos. Mas o atual (presidente) não tem nenhum.

Há riscos de retrocessos?

O que fizemos, depois da redemocratização, foi uma coisa apartidária. A gente conseguiu que os direitos humanos resistissem, como tem resistido até agora, a um governo que tem visão totalmente depreciadora. Alguma raiz a gente plantou. Mesmo aqueles que não acreditam não conseguiram fazer com que essa raiz desaparecesse.

A que se deve essa solidez em que o senhor acredita?

O Getúlio só é a maior personagem da política brasileira pela fase democrática em que governou. A história do Brasil é uma história de êxito de governadores que foram a favor dos direitos humanos. Não vejo nenhuma lógica para que um camarada que foi eleito democraticamente perca tanto tempo em querer perseguir, combater o que o Brasil tem de mais inspirador.

Como as questões da política de direitos humanos deveriam ser posicionadas dentro do processo de combate à pandemia?

A questão da saúde depende dos direitos humanos. Ou todos se salvam ou todos se perdem. Não pode ser combatida pela metade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.