Vamos ao lugar comum: a pandemia acelerou tudo. Vamos ao diferencial: a ética. Especialmente no campo da saúde. Poucas vezes um segmento econômico foi colocado tanto a prova neste século e, em especial no biênio 2020-2021, quanto a área em que o Fleury atua. E a empresa mandou muito bem, vencendo pela segunda vez consecutiva o prêmio AS MELHORES EMPRESAS DA DINHEIRO 2021 em sua categoria. Não foi uma jornada fácil. Jeane Tsutsui, sua atual CEO, que o diga. Ela assumiu o cargo em abril, mas está na empresa há duas décadas, sendo 14 anos em cargos executivos. “O que faz muita diferença para uma empresa de saúde é a conexão com seu propósito”, disse a executiva, que é médica e sabe o quanto esse background técnico tem peso numa operação como a do Fleury.

Jeane parte de um princípio. O de que existe uma falsa dicotomia no segmento de saúde. Para quem está de fora, a conta pode parecer simplista. Quanto mais doentes houver, maior faturamento o setor terá. Algo como uma oficina mecânica, que depende de mais e mais veículos fragilizados para que tenha carros a consertar, inúmeros clientes e fazer receita. Ela integralmente refuta a comparação. “Teoricamente”, diz, se todo mundo for saudável ninguém precisaria de serviços de saúde. Mas Jeane inverte a ordem dos fatores e muda o resultado da equação. “Só que para manter as pessoas saudáveis, você depende da medicina diagnóstica, já que 70% das decisões médicas têm como base resultados diagnósticos”, disse, referindo-se à área core de atuação do Fleury. “Então, para ter pessoas saudáveis, a base é a medicina diagnóstica.” Em outras palavras, mais saúde, maior faturamento.

JEANE TSUTSUI EMPRESA: Grupo Fleury. CARGO: CEO. DESTAQUES DA GESTÃO: Diversificar linhas de receitas além da medicina diagnóstica com soluções que sejam igualmente inclusivas. (Crédito:Divulgação)

O resultado operacional do primeiro semestre de 2021 foi uma receita de R$ 1,683 bilhão, contra R$ 1,083 bilhão do primeiro semestre do ano passado (alta de 55,4%). Evidentemente, os resultados num ano de pandemia precisarão ser lidos sob contextualizações. Mas o ano passado cheio, com nove meses sob o impacto da Covid, trouxe receitas brutas de R$ 3,205 bilhões, contra R$ 3,140 bilhões de 2019. Ver somente os números, porém, pode levar a uma leitura imprecisa. É isso que Jeane tenta evitar. “Existe uma migração de olhar de estratégia”, disse. “As margens de determinados serviços ou produtos passarão a vir mais de outros, em função de uma mudança de comportamento.”

Por esse motivo o Fleury mira todo o espectro da saúde, além do campo da medicina diagnóstica. O próprio envelhecimento populacional levará a um posicionamento mais abrangente. Para Jeane, a resposta está em construir modelos mais eficientes. “Nós não queremos fazer exames desnecessários, queremos fazer os exames necessários para um número maior de pessoas.” Ela aponta para uma vertente inescapável, o de uma população que viverá mais. “Todos nós precisaremos trabalhar para obter soluções altamente sustentáveis.”

Quando diz todos, a executiva se refere também a outros players do segmento. “Temos conversado bastante, e existe essa visão de pensarmos ecossistemas sustentáveis”, afirmou. “Porque se esse sistema não ficar de pé no médio e no longo prazo, não estaremos aqui.” Para isso, a estratégia é trabalhar o tempo inteiro perseguindo mais eficiência e aumento de produtividade. Isso leva a uma atitude de maior colaboração entre empresas de diferentes abordagens no setor da saúde. Jeane sabe que não é simples, “porque queira ou não cada um tem que dar resultado”, o que significa olhar para a própria estratégia. “Mas não pode ser algo predatório. A pandemia nos trouxe muito esse olhar de que todos estamos no problema.””

“Nós não queremos fazer exames desnecessários. Queremos fazer os exames necessários para um número maior de pessoas” Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury.

A estratégia do grupo se divide em manter o crescimento e a relevância dentro do segmento de medicina diagnóstica, que representa 96% das receitas no segundo trimestre, e atuar com mais força em outras linhas, como serviços de telemedicina, oftalmologia, ortopedia, que hoje respondem pelos demais 4%. “Não é deixar de fazer medicina diagnóstica, mas acrescentar outros serviços para completar a jornada de cuidado do paciente.” Dessa maneira, o crescimento continuará sustentado no orgânico, mas sem deixar de lado aquisições — nos últimos cinco anos foram 12, somando R$ 1 bilhão.

Pelo lado orgânico, a empresa viveu o quinto trimestre consecutivo de recorde com o faturamento do serviço de atendimento móvel, que já responde por 8,1% da receita total. Isso equivale a 25 novos endereços físicos. Jeane afirma que existe também preocupação de buscar soluções digitais para levar alternativas a quem não tem plano de saúde. Hoje, no Brasil, apenas uma em cada quatro pessoas tem acesso à saúde suplementar, normalmente coberta por planos privados. Há muitas pessoas para trazer ao sistema. “Um mercado potencial, porque houve uma mudança comportamental decisiva com a pandemia: a preocupação com a saúde cresceu.” Com tantas opções, apenas uma é inegociável no Fleury. “Fazer saúde tendo um propósito.”