Os gregos da idade clássica inventaram a tragédia, e seus descendentes contemporâneos a encenam nos mercados financeiros. A novela do calote dos títulos públicos gregos provocou ondas de turbulência, que vitimaram diversos fundos e fizeram outros lucrar. DINHEIRO conversou com os gestores dos fundos beneficiados e os dos prejudicados por esse drama para entender quais serão os novos atos dessa peça – e como você deve conduzir o roteiro de suas finanças para chegar a um final feliz. A base foi uma pesquisa exclusiva da empresa de informações econômicas Economática. A pesquisa comparou o desempenho em 2011 dos fundos de ações, long short e multimercados. Foram analisados apenas aqueles com histórico de mais de um ano, pelo menos 100 investidores, não exclusivos e com patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões. 

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No que diz respeito aos fundos de ações, os mais rentáveis do ano até setembro foram os que permitiram aos gestores maior flexibilidade na escolha da carteira. Ou seja, os fundos de ações do tipo livre. Um dos mais rentáveis foi o fundo de dividendos gerido pela paranaense JMalucelli, que caiu apenas 0,8% neste ano ante uma queda de 23,2% da bolsa. “Em um momento de turbulência forte, é importante fazer uma análise fundamentalista de cada empresa e não deixar as oscilações do mercado influenciar as decisões do gestor”, diz Roberto Sevalli, diretor da gestora. Na outra ponta, os fundos que investem em apenas um tipo de empresa, os chamados setoriais, foram os que mais perderam, caso do BB Ações Siderurgia, da empresa de gestão do Banco do Brasil. “Se o setor vai mal, o gestor não tem como fugir dos resultados negativos”, diz Jorge Ricca, gerente da BB DTVM responsável por fundos de ações. 

 

No caso da siderurgia, diz ele, o real forte nos últimos dois anos e o aumento da competição internacional obrigaram as empresas a reduzir seus preços. Paradoxalmente, o quarto fundo mais rentável, com um ganho de 2,3%, também é um setorial da BB DTVM, o dedicado a ações do setor elétrico. “As empresas energéticas são estáveis e pagam bons dividendos, por isso são preferidas nos momentos de crise”, afirma Ricca. O comportamento paradoxal dos fundos setoriais da empresa oferece uma lição valiosa para o investidor que quiser evitar o drama. Uma aplicação desse tipo pode superar largamente a média do mercado, mas sempre será mais arriscada devido às oscilações de cada setor. Assim, ao buscar ganhos maiores, é preciso ter em mente que o risco também vai aumentar. O script de alguns fundos inclui a volatilidade natural da bolsa, em momentos dramáticos ou cômicos. Um exemplo é o fundo long short da gestora paulista Constellation, que perdeu 7,3%. 

 

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“Em um momento de oscilação, a análise deve ser fundamentalista” – Roberto Sevalli, gestor da Jmalucelli

 

Por definição, os fundos desse tipo assumem posições compradas (long) e vendidas (short) em ações, tentando ganhar com a diferença entre preços. Tradicionalmente comprador, o produto da Constellation investe sempre de 30% a 40% de seu patrimônio em ações. “O fundo perde quando a bolsa cai, mas pode ganhar muito mais quando o mercado se recupera”, diz Fabio Dall’Acqua, do comitê de investimentos da Constellation. Tanto que ele esteve entre os dez mais rentáveis em sua categoria em 2010, com um retorno de 19%. Ter uma estratégia que reflita a volatilidade da bolsa pode significar uma dose maior de risco. Para os investidores mais arrojados, porém, eles podem dar bons lucros no momento correto. Um caso parecido é o do fundo multimercado da gestora carioca JGP, que perdeu 2,69% neste ano. “Embora seja um multimercado, o JGP Equity FIQ é na realidade um fundo 100% dedicado a ações”, diz Mauricio Werneck, sócio da JGP.  Se comparado aos fundos de ações, o desempenho não é dos piores. Segundo Werneck, o fundo – que rendeu cerca de 160% nos últimos 36 meses ante apenas 5,6% do índice Bovespa – foi classificado como multimercado para permitir maior flexibilidade na hora da gestão.

 

No caso da JGP, a lição para evitar o drama é que o investidor deve pensar no longo prazo quando optar por fundos mais arriscados. A atuação de algumas gestoras merece aplausos. Uma delas é a paulista Advis Investimentos, que tem cinco fundos figurando entre os multimercados e long short mais rentáveis. “Temos um processo rigoroso de controle de risco e as decisões são sempre tomadas por um comitê de investimentos, e não por uma pessoa só”, diz Alexandre de Zagottis, um dos gestores. Decisões conjuntas também são uma característica da área de gestão do BTG Pactual, que teve um fundo do tipo multimercado juros e moedas figurando entre os mais rentáveis. “Nossa equipe tenta sempre pensar em todas as hipóteses, e as melhores recebem os aportes de capital”, diz Bruno Coutinho, um dos responsáveis pela gestão de renda fixa no BTG Pactual. Além de São Paulo e Rio, a avaliação é feita por equipes em Londres, Nova York e Hong Kong. “Ter uma boa visão do cenário externo nos ajuda a antecipar efeitos no Brasil e aplicar melhor”, afirma.

 

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Independentemente da turbulência ou da placidez do mercado, alguns fundos de ações são voláteis devido às suas características. Esses fundos correm riscos para ampliar os resultados. Se a bolsa cai, há grandes chances de ele sofrer perdas também. Porém, se a bolsa sobe, os ganhos podem ser muito maiores do que se houver uma aplicação direta em ações. Por isso, seus gestores costumam encarar com serenidade os momentos de queda no mercado. “A crise não muda nada em nossa estratégia. Nosso fundo carrega mesmo alguma volatilidade e esse é o perfil”, afirma Marcos Duarte, sócio da Polo Capital. “O investidor que escolhe essa aplicação sabe desse risco e está acostumado a ele”, completa. 

 

O multimercado da gestora aparece como o segundo menos rentável da categoria no acumulado do ano. Para um fundo que investe a maior parte de sua carteira em ações na bolsa, o momento de queda pode até trazer algum benefício no longo prazo. “Gostamos de trabalhar com boas oportunidades e este ano estamos cheios delas. Mas o caminho até os bons resultados, às vezes pode ser tortuoso”, diz. No caso dos fundos long short, o efeito das oscilações na bolsa de valores e a psicologia dos agentes de mercado influenciam diretamente no resultado. Por definição, esses fundos assumem posições compradas (long) e vendidas (short) em ações, para que haja um ganho com a diferença de preços. O fundo da G5 Advisor, boutique de investimentos fundada em 2007 por Corrado Varolli, ex-executivo do Goldman Sachs na América Latina, por exemplo, mostrava bons resultados até junho deste ano. 

 

No segundo semestre, porém, os cotistas sentiram o impacto dos solavancos do mercado. De acordo com ranking elaborado pela Economática, a rentabilidade até 23 de setembro foi de 4,52%, fazendo com que o fundo figurasse na terceira posição entre os long short menos rentáveis. “Em cenários de incerteza, as buscas são por empresas de telecomunicações e energia. Nós não tínhamos esses papéis em nossa carteira até junho, estávamos com muitas ações de empresas de saúde e varejo e acabamos sofrendo”, diz André Zylberberg, gestor do fundo. O patrimônio do fundo G5 esvaziou-se desde então, passando de R$ 398 milhões no final de junho para R$ 171,3 milhões até o último dia 4. Vale lembrar que a rentabilidade desde a abertura do fundo, em março de 2009, alcançou 49,45% e, em 12 meses, atinge alta de 7,43%.