A população mundial foi pega de surpresa por um ataque de um inimigo invisível e letal. Um antagonista não só da vida, mas também de sonhos, dos negócios e que está abalando a economia mundial. Nesse cenário, os pequenos e médios empresários, em especial a população negra brasileira, são os mais atingidos, alguns setores mais que outros, mas todos impactados em suas receitas. A reflexão acima é da subsecretária de pequenas e médias empresas do Estado de São Paulo e diretora executiva do Banco do Povo, Jandaraci Araújo. Para ela, “não existe progresso com exclusão social.”

Janja, como é mais conhecida, se tornou uma das vozes mais respeitadas no mundo do empreendedorismo no Brasil e tem ajudado trabalhadores a desenvolverem seus próprios negócios. Com o know-how social e econômico de mulher e negra, que vendia salgados nas ruas de Nova Iguaçu, baixada fluminense, a executiva multitarefas. Em entrevista ao vivo à repórter de economia da IstoÉ Dinheiro Jaqueline Mendes, na tarde desta quinta-feira (30), ela falou sobre sua história de vida, lutas, formação intelectual, sobre os sabores e os dissabores do empreendedorismo, especialmente em tempos de pandemia, e os projetos de futuro. “Não existe glamour em ser empreendedor, empreender exige nervos de aço”, afirma. “O melhor modelo de empreendedorismo é por oportunidade e estamos fazendo por necessidade. Isso não é bom.”

Seu currículo é extenso. Ela possui MBA em Finanças e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral, especialização em Gestão Estratégica pela Business School e Inteligência Competitiva pela ESPM São Paulo e é conselheira da Will – Women in Leadership in Latin America, organização não governamental voltada para o empoderamento feminino nas organizações, e voluntária no Grupo Mulheres do Brasil. Segundo a executiva, “empreender sempre foi desafiador, principalmente no Brasil, não é uma decisão simples e tampouco fácil de executar”. “Contudo, para sobreviver, é preciso se reinventar. Mantenha a calma. O desespero é o pior conselheiro. Cuide de sua saúde, afinal nenhum CNPJ vale um CPF”, sugere.

Coordenadora do programa Empreenda Rápido, que promove capacitação empreendedora, formalização e microcrédito, palestrante, professora de Finanças Corporativas de pós-graduação e consultora, Janja, que tem duas filhas, diz na live que há mais de duas décadas resolveu mudar de vida e no processo de recomeço teve que empreender vendendo salgados na porta de uma faculdade, até conseguir um emprego no grupo Sendas/Pão de Açúcar. A vivência e os estudos lhe deram cabedal intelectual e prático para estar no posto que ocupa. “O fato de eu ter vivido, em vários momentos da minha vida, a vida de empreendedora, faz com que a gente tenha uma perspectiva diferente sobre as necessidades”, afirma.

A população negra e pobre forma um percentual significativo do público alvo dos programas de governo, que ela gerencia. “Já tive do outro lado do balcão, então, eu sei quais são as dores das pessoas. Percorri esses dois ambientes e com isso a gente conseguiu fazer algumas ações bem legais que estão ajudando bastante empreendedores nesse momento aqui no Estado de São Paulo”, diz. Para ela, as pessoas terão que se adaptar frente ao estrago econômico e financeiro gerado por causa da pandemia do coronavírus. “O empreendedor terá que buscar por novas oportunidades, novos negócios, aprender a fazer de caixa a ter educação financeira”, afirma. Na avaliação de Janja, “o grande problema do empreendedor é a mistura de caixa. Ele mistura o dinheiro do negócio com o da vida pessoal”.

Na conversa com Jaqueline, a executiva argumenta que nesta crise ficou latente que a desigualdade social influencia direto na economia do País. “As pessoas se viram sem nenhuma renda. Caiu o véu, descortinou-se a desigualdade. Precisamos mudar a forma como a gente se relaciona no campo dos negócios.” De acordo com sua fala, economia sem inclusão social não dá certo. Os estudos mostram que as empresas, que tanto falam sobre engajamento e experiência do cliente, não assumem que o importante é lembrar que a representatividade é um fator essencial de identificação com a marca, com os negócios. E esse público é uma das principais engrenagens da economia nacional. “A população negra movimenta, em renda própria, R$ 1,7 trilhão por ano”, diz ela. “A gente precisa garantir direito direitos iguais a todos.”