Túlio Oliveira, diretor-geral do Mercado Pago no Brasil, assumiu o comando da processadora de pagamentos do Mercado Livre, em meados de 2017, com o objetivo de ampliar de forma acelerada a atuação da empresa em segmentos como o de máquinas de cartões e o de concessão de crédito. Em entrevista à DINHEIRO, o executivo falou sobre as estratégias, o aumento da competição no mercado e a regulação do setor.

Como o Mercado Pago ganhou escala nas máquinas de cartões em 2017?
Esse mercado já está mais maduro. Mas creio que os principais pontos foram internos, porque melhoramos muito o produto. Lançamos também a operação de crédito e o cartão de débito, permitindo que o vendedor processe pagamentos na maquininha, receba na conta do Mercado Pago e já utilize no cartão.

Quais os próximos lançamentos?
Estamos melhorando o aplicativo, agregando serviços que estarão presentes no dia a dia do usuário. Já temos a conta pré-paga, recarga do celular, pagamento de contas, envio de recursos, pagamento com QR Code e compra de créditos de parceiros. Nos próximos meses, vamos colocar outras funções, como pagamento do transporte público, de estacionamentos e de cadeias de fast-food. A ideia é substituir as necessidades básicas de uma conta corrente.

Como estão atuando na parte de crédito?
Lançamos a operação de crédito em 2017 e estamos crescendo. O foco inicial era para os nossos vendedores do Mercado Livre, mas, no início de maio, começamos a oferecer crédito também para os vendedores que operam via maquininhas. Para eles, oferecemos um valor menor, de R$ 300 a R$ 50 mil.

Como avalia a maior competição no segmento pelos pequenos negócios?
O fato de ter mais empresas entrando mostra que existem grandes oportunidades. Estimamos que o mercado tenha entre 17 milhões e 20 milhões de potenciais consumidores, que seriam os pequenos empreendedores, em grande parte informais. Ainda tem um mercado enorme para ser capturado. A entrada de mais empresas coloca de fato uma pressão em preço, mas, ao mesmo, tempo ajuda a aumentar o mercado e a educar o empreendedor. Vai ter sim uma pressão competitiva, mas estamos muito bem preparados.

Como reagir a investida de rivais, como PagSeguro e Cielo?
Temos o que nenhum deles tem: um ecossistema completo. Integramos a máquina com a conta, o aplicativo e a oferta de crédito , além de ter o Mercado Livre por trás. Não é só uma briga de preços, é uma briga de soluções. E nessa parte estamos na frente.

O sr. enxerga um potencial grande para esse mercado?
Considerando o universo de possíveis clientes e a penetração das empresas, ainda há um potencial enorme. Tem muita gente que precisa receber pagamentos e não sabe que pode usar a nossa solução.

Quais os investimentos prioritários neste ano?
Estamos investindo em desenvolvimento e tecnologia. Fazer todas essas novas soluções para o aplicativo custa muito caro. Estamos investindo bastante na nossa operação de maquininhas, porque temos que primeiro comprar as maquininhas e só depois vendê-las. Isso consome parte dos recursos. E em marketing, para crescer a base, tanto dos usuários das máquinas, como do aplicativo.

Qual é a meta de crescimento de usuários das máquinas para 2018?
A base vai crescendo e vai ficando mais difícil crescer tanto, mas ainda estamos muito agressivos no crescimento da venda de maquininhas e do volume processado. Não abrimos projeção futura, mas o negócio das maquininhas já passa a ser uma das principais vertentes do Mercado Livre.

Considerando o sucesso do IPO da PagSeguro, qual é a possibilidade de o Mercado Pago realizar a abertura de capital?
Somos muito mais fortes juntos com o Mercado Livre do que separados. Minha maquininha hoje tem um valor enorme porque tenho todo o ecossistema por trás. Então, não está nos nossos planos fazer essa separação. Já vimos isso acontecer, por exemplo, no caso de eBay e PayPal e de Alibaba e Ant Financial, mas para nós não faz sentido.

Como o sr. avalia a atuação do Banco Central (BC) no setor?
Falamos com o BC com bastante frequência. O órgão começou a regular os meios de pagamento no fim de 2013. Creio que tem um processo de aprendizado, que vem ocorrendo nos últimos anos junto à indústria. De modo geral, no entanto, está fazendo um bom trabalho. Bateu recentemente na questão dos custos do intercâmbio bancário (interchange) e acho que tem uma oportunidade enorme se quiser também regular o interchange no cartão de crédito.