Há um evento bianual em Brasília que nem mesmo a pandemia cancelou: o festival de passar o chapéu no Palácio da Alvorada. Com a prerrogativa de oferecer apoio eleitoral no pleito de outubro, todo mundo quer aquela ajudinha da União (geralmente em forma de dinheiro). E o festival começou cedo este ano. Nesta semana o presidente recebeu demandas de prefeitos, de agricultores e de membros de igrejas evangélicas. Os prefeitos querem que a União banque a obrigatoriedade da passagem de ônibus gratuita para idosos, os agricultores querem mais R$ 3 bilhões em crédito para esta safra e os pastores buscam garantias de veto caso o Congresso aprove mudanças tributárias para os templos religiosos.

Líderes evangélicos criticam pastor por intermediar repasse de emendas

Todos esses desejos se somam à pressão dos servidores público por reajuste, a bomba relógio dos caminhoneiros, a expectativa de policiais militares por auxílio para compra de imóveis. Há ainda o olhar atento de partidos políticos do Centrão, que também esperam sua fatia do bolo. Não está fácil para o presidente. Um interlocutor próximo a Bolsonaro afirmou que o presidente tenta atender todo mundo, e tem se reunido com os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia) para tratar desses assuntos. “Mesmo assim é improvável que todas as demandas sejam atendidas”, disse o interlocutor.

Ainda que nem tudo seja efetuado, Bolsonaro não deu nenhuma negativa direta ­–  estratégia para manter seus potenciais aliados em banho-maria. Uma solução perspicaz, mas que pode não ter tanto efeito se boa parte desses mesmos agentes políticos, da sociedade civil, empresarial e do funcionalismo público também tiverem batido na porta de um certo sindicado à procura de outro candidato em busca de promessas para 2023.