A entidade mítica chamada mercado (que nada mais é do que um bando de gente tentando ganhar dinheiro) pranteou a derrota do presidente da Argentina, Mauricio Macri nas prévias eleitorais de domingo. Macri obteve 32% dos votos. Alberto Fernandez, cuja vice é Cristina Kirchner, recebeu 48%.

O resultado praticamente confirma uma derrota de Macri no pleito em outubro e também aumenta a possibilidade de que o novo congresso tenha maioria peronista.

Se um número explica a sensação, ei-lo: em um dia, o valor de mercado das companhias abertas argentinas caiu 36% em dólares, de US$ 64,4 bilhões na sexta-feira, dia 9, para US$ 40,7 bilhões na segunda-feira, dia 12.

As lágrimas do mercado estão sendo gastas com um defunto de qualidade discutível. Com pinta de figurante em filme argentino pré-Ricardo Darin, Macri foi eleito em 2015 prometendo acertar as contas. Não entregou.

Ele assumiu o governo com um déficit fiscal de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Até o fim de 2017, o déficit havia crescido para 6%. Em 2018, quando a crise bateu forte e o governo resolveu começar a enxugar as contas, esse percentual voltou para 5%, mais ou menos como no início do governo.

O problema é que a demora custou caro. A Argentina ainda é uma economia dolarizada. Com a crise, o peso depreciou-se 60% em relação ao peso desde o início de 2018.

Os efeitos sobre a economia foram devastadores. A dívida cresceu, e o custo do crédito também. No ano passado, o PIB encolheu 6,5%. A inflação, que havia recuado para 25% em 2017, voltou para 55%.

Ou seja, se Macri foi derrotado, foi por ter demorado a agir e por ter feito menos do que o necessário na hora de acertar as contas públicas.