O trabalho da economista-chefe e estrategista da Consulenza Investimentos, Helena Veronesi, é acompanhar o mercado, os indicadores e as decisões do governo e traduzir essas informações em estratégias de investimentos. A Consulenza é uma subsidiária da Azimut Brasil, filial da gestora de fortunas italiana Azimut. Para Veronesi, 2021 será um ano de recuperação econômica.

Qual o grande desafio do Brasil neste ano?
A grande questão é a fiscal, que está ligada às reformas e até mesmo a uma possível alta dos juros. O cumprimento do teto de gastos é o grande desafio do governo.

Há o risco de ruptura do teto de gastos?
A equipe econômica apresentou um orçamento que respeita o teto de gastos, mas que não tem espaço para nenhuma despesa adicional. Como os gastos com a pandemia, por exemplo. Sabemos que a pandemia vai durar mais tempo, então haverá gastos adicionais. E essa é a principal discussão, porque sabemos das consequências políticas e econômicas para quem não cumpre o teto de gastos. Além de ser um crime de responsabilidade fiscal, provoca problemas econômicos porque resulta na saída de investimentos do País.

Já há consequências negativas?
Os estrangeiros estão relutantes em investir no Brasil. Isso contribui para a alta do dólar, que tem como consequência imediata, mas não a única, o aumento da inflação. Estamos vendo os preços dos alimentos subindo muito, justamente porque temos um dólar extremamente forte em relação ao real. Isso estimula as exportações e o preço aqui dentro acaba subindo. Mas é bom frisar que estamos falando de um risco baseado em um cenário de política fiscal fora de controle. E esse ainda não é o cenário base.

E como evitar que a situação saia do controle?
Não acredito que chegaremos a essa situação de descontrole fiscal, embora seja o risco hoje. Uma das maneiras de o Brasil cumprir o teto de gastos é fazendo andar as reformas, como a administrativa e tributária. Algumas privatizações podem ajudar a sanar a sangria das contas públicas. O problema é que as reformas não estão andando como imaginávamos. E hoje não temos mais aquele diferencial de juros altos que justificava o gringo entrar em países emergentes. Se você descumpre as regras fiscais, o investidor estrangeiro fica mais cauteloso.

Qual é o juro ideal?
Não tem juro ideal porque depende de muita coisa. Depende do nível do dólar, que não há como controlar, do nível de atividade econômica, da pressão inflacionária. Acho que hoje o Banco Central poderia elevar para até 4%. Seria uma elevação estimulativa e seguraria essa alta da inflação, que está com cara de que veio para ficar, pelo menos no curto prazo.

Nesse cenário, onde investir?
Setores que sofreram mais com a pandemia, como turismo e empresas aéreas, tiveram seus preços deteriorados em 2020. Então, em um cenário mais positivo, com vacina e retomada das atividades, empresas desses setores verão os preços de seus papéis se recuperarem. Fundos imobiliários que envolvem shoppings na carteira também devem ter uma boa recuperação.

GESTÃO DE IMAGEM
Oria Capital investe em relações públicas digital

A gestora brasileira de private equity Oria Capital, com cerca de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão, investiu R$ 40 milhões na empresa catarinense Knewin, que atua na área de relações públicas e de marketing, com foco no monitoramento da imagem dos clientes, análise da concorrência e reputação de marca. Os recursos serão usados principalmente para aquisições. Segundo o sócio-fundador da Oria Capital, Jorge Steffens, esse setor está maduro para uma consolidação no Brasil, por ser altamente fragmentado.

CRÉDITO IMOBILIÁRIO
Creditas adquire a plataforma Bcredi

A fintech Creditas adquiriu, por um valor não confirmado, a plataforma digital de crédito imobiliário Bcredi, criada pelo Banco Bari, do Paraná. A Bcredi foi fundada em 2018 como uma fintech dentro da instituição financeira de Curitiba. Segundo a Creditas, o objetivo da aquisição é aumentar a participação no mercado de home equity, que são empréstimos concedidos para proprietários de imóveis que usam a propriedade como garantia. A transação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Número da semana
US$ 50,995 bilhões 

Foi o superávit da balança comercial brasileira em 2020, informou o Ministério da Economia na segunda-feira (4), uma alta de 6,16% ante os US$ 48,036 bilhões de 2019. O resultado do ano passado foi o terceiro maior superávit da história econômica brasileira, perdendo para o recorde de US$ 66,989 bilhões registrado em 2017 e para os US$ 58,033 bilhões de 2018. Em 2020, as exportações atingiram US$ 209,921 bilhões e as importações, US$ 158,926 bilhões. Em dezembro, especificamente, a balança brasileira registrou déficit de US$ 42 milhões, o que influenciou negativamente no resultado do ano. As exportações somaram US$ 18,365 bilhões e as importações, US$ 18,407 bilhões. Em 2020, houve aumento de 6% na exportação de produtos agropecuários. As vendas da indústria extrativa, no entanto, caíram 11,3% e as exportações de produtos da indústria de transformação diminuíram 2,7%. As importações da indústria extrativa caíram 41,2%, as da indústria de transformação caíram 7,7% e as importações agropecuárias diminuíram 3,9%.