A maior estrela da nova safra de companhias telefônicas atende por um nome nada charmoso e de difícil pronúncia: Commware. Ela é uma das onze ?empresas-espelhinho? que conquistaram o direito de explorar serviços de telefonia nas 482 cidades rejeitadas pelas ?grandes empresas-espelho?. A disputa foi promovida pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) em três leilões, o último realizado na semana passada. A Commware, vedete entre as calouras, vai operar em 185 municípios, ligando 1,5 milhão de cidadãos. ?Agora é a vez de provarmos que os brasileiros sabem fazer direito?, afirma José Carlos Maciel, sócio-diretor da empresa, que pertence a três engenheiros ? Eduardo Grizendi, Sérgio Dantas e ele. Todos com passagem pelo setor de telefonia. Maciel e Dantas trabalharam na Companhia Telefônica do Brasil Central (CTBC), do grupo Algar, enquanto Grizendi foi diretor da Vésper. Eles têm o apoio de investidores de peso que, por enquanto, segundo Maciel, ficarão com seus nomes em segredo. Com toda certeza, seus sócios têm o cofre cheio. Isso porque a conta para montar a infra-estrutura em todas as cidades que serão atendidas pela Commware será de US$ 300 milhões.

A oportunidade para os três engenheiros surgiu quando as empresas-espelho, como a Vésper, não se interessaram em instalar telefones em todas as localidades de suas áreas de cobertura. Elas abriram mão desse direito alegando que não valia a pena gastar em infra-estrutura para fornecer serviços de telefonia em cidades como Catalão (GO) ou São Gabriel (RS) porque o fluxo de ligações é pequeno. Em telefonia, a rentabilidade está intimamente ligada ao volume de chamadas. No entanto, operar nesse mar de pequenas cidades pode ser um bom negócio. O motivo atende pelo nome de convergência, aquele movimento que a médio prazo vai reunir telefone, televisão e Internet em um mesmo sistema criando novos conglomerados de comunicação. A espanhola Telefônica já despertou para essa tendência e tem investido maciçamente em todo o mundo na compra de emissoras de televisão, provedores de Internet e, é claro, companhias telefônicas. A infra-estrutura que as ?espelhinhos? instalarão nas pequenas cidades será o caminho por onde as empresas de Internet e tevê a cabo passarão em busca de novos consumidores. O aluguel ou mesmo a venda dessas ?vias? será o grande negócio para os nanicos das telecomunicações. Na Commware, os três engenheiros estudam propostas de acordos operacionais com emissoras de televisão a cabo e de Internet. ?Queremos oferecer vantagens para atrair clientes?, explica Maciel.

De olho nesse filão, outros empresários bem mais conhecidos que o trio da Commware também mostraram interesse nas sobras das empresas-espelhos. José Paulo Amaral é um deles. Ex-administrador das Lojas Americanas e das redes Mappin e Mesbla, Amaral se aliou ao banco Liberal, da família de Antônio Carlos Lengruber, e abriu o consórcio Telenet. O braço operacional deles será a Wittel, de Fernando Jardim, este sim um veterano no setor de telefonia como o pessoal da Commware. A sociedade, apostam analistas de mercado, pode ter vida curta. Lengruber e Amaral são velhos alunos da escola de compra e venda de empresas. Apesar de o negócio ser de comunicação, ninguém da Telenet, que vai operar em 84 cidades, se dispôs a dar entrevista. Amaral, normalmente menos reservado, dessa vez foi lacônico: ?Não estou interessado em falar?.

No jogo de xadrez telefônico, as ?espelhinhos? têm outro atrativo: a legislação. Ao contrário das operadoras de maior porte, que só poderão atuar fora de suas áreas a partir de 2005, as pequenas ganham esse direito já em 2002. Para as grandes a possibilidade só existe se elas anteciparem suas metas de instalação, o que demanda investimentos bilionários. Para as pequenas, basta existir. Esse privilégio das ?espelhinhos? aumenta a atração das demais operadoras sobre elas. Afinal, com uma das pequenas na mão será possível oferecer serviços nas áreas mais ricas do País, como as capitais da região Sudeste. E antes do prazo legal. Em outras palavras, a Anatel pode estar prestes a levar um drible.