Foto: Jim Watson / AFP | Evaristo Sa / AFP

No próximo domingo, dia 17, o presidente Jair Bolsonaro dará início a um dos mais esperados atos de sua administração na esfera internacional. Em encontro na Casa Branca com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ele reforçará a posição de alinhamento ideológico com o atual governo americano, o que tende a ajudar o Brasil a avançar em acordos na área comercial. O desafio é equilibrar duas correntes de pensamento do governo. A ala “religiosa” endossa a aproximação com Trump, visto como uma espécie de “campeão do ocidente.” Já a ala econômica é mais cuidadosa e vê com cautela o risco de afetar o relacionamento com outros parceiros, sobretudo a China.

Bolsonaro já anunciou que pelo menos dois acordos comerciais devão sair do papel. Um que estabelece uma melhor tributação de produtos e outro que permite o uso comercial por empresas americanas da base militar de Alcântara, no Maranhão. Há uma expectativa de que ambos os líderes sinalizem a intenção de iniciar tratativas na direção do livre-comércio. O setor privado espera também que a visita ajude no pleito de entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e na inclusão do País no Global Entry, programa que facilita a checagem de passaportes nos EUA para cidadãos de países selecionados.

“São dois presidentes que dão muita importância ao setor privado, então esperamos bons resultados”, diz Deborah Vieitas, CEO da Amcham Brasil (Câmera Americana de Comércio). A balança comercial brasileira com os Estados Unidos foi negativa em 2018, mas o déficit não chegou a US$ 1 bilhão e o Brasil exportou US$ 28,77 bilhões para o país. Disso, 58,5% foram de produtos manufaturados, que tem alto valor agregado. Se por um lado, o aceno aos americanos pode gerar mais bons frutos, existe o perigo do movimento alienar outros parceiros.

CHINA A admiração de Bolsonaro por Trump é grande desde os tempos de campanha, quando o então candidato chegou a declarar que “a China está comprando o Brasil”, uma desfeita ao parceiro que alavancou o consumo de commodities no País nos governos Lula-Dilma. Depois, já eleito, ele seguiu os passos de Trump no Oriente Médio e anunciou que a embaixada de Israel seria transferida para Jerusalém, irritando mais de 22 países islâmicos, que compraram US$ 11,5 bilhões em produtos brasileiros, em 2018.

Os aliados entraram na onda. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, apareceu usando boné de apoio à reeleição de Trump em 2020. Já Olavo de Carvalho, o filósofo ultraconservador de forte influência no governo, disse que o americano é um dos poucos líderes que “lutam pela civilização” atualmente. “Houve algumas iniciativas paralelas ao Itamaraty e ao governo, que não foram a melhor forma de se fazer a diplomacia” afirma José Pio Borges, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “Mas o Brasil já parece estar no caminho correto agora, com acenos diplomáticos à China”.

A oposição entre uma vertente ideológica e outra pragmática parece, no entanto, longe de chegar ao fim. Apesar da agenda da visita contar com um grande encontro com empresários locais, primeiro compromisso de Bolsonaro em Washington será um jantar com nomes da ultra-direita como o ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, e o famigerado Olavo de Carvalho, que mora nos EUA. Bolsonaro também já anunciou a troca de pelo menos 15 embaixadores, incluindo Sérgio Amaral, atual representante na capital americana, abrindo disputa entre quais dos dois lados emplacará mais indicações nos próximos meses.

Os militares são o fiel da balança nessa disputa e têm demonstrado maior moderação. Um exemplo disso foi a decisão pela não intervenção militar na Venezuela. Os EUA não descartam essa opção, no entanto, e podem pressionar o Brasil a tomar medidas mais enérgicas, como maiores sanções sobre o vizinho sul-americano. Talvez o bom senso prevaleça, mas é de Trump e Bolsonaro que estamos falando.