Eles têm 18 anos. Com a chegada do momento da temporada de alistamento militar na Rússia, alguns dizem que estão prontos, mesmo que tenham que lutar na Ucrânia, enquanto outros estão aliviados por ter conseguido dispensa ou farão de tudo para obtê-la.

“Não vou a lugar nenhum, vou tentar escapar”, declara Yevgeny Ptitsyn, estudante entrevistado pela AFP em São Petersburgo.

Na Rússia, a cada ano, mais de 250.000 homens com entre 18 e 27 anos cumprem o serviço militar obrigatório de um ano. O exército realiza duas convocatórias, uma na primavera/verão e outra no outono.

Para esta chamada da primavera de 2022, que começa nesta sexta-feira, o presidente Vladimir Putin estabeleceu a meta de enviar 134.500 jovens para os quartéis. As primeiras alocações nas unidades devem ocorrer no final de maio.

Mas o serviço militar é relativamente impopular na Rússia devido ao medo de trotes violentos e à perspectiva de trabalho chato ou pesado.

Muitos jovens russos, muitas vezes ajudados ativamente por seus pais, multiplicam as estratégias para escapar pagando suborno a funcionários, obtendo atestados médicos ou graças a seus estudos.

Este ano, a ansiedade é muito maior com a possibilidade, real ou imaginária, de ser enviado para o front ucraniano.

– “Não quero” –

Em 9 de março, o ministério da Defesa admitiu que recrutas estavam lutando na Ucrânia e que alguns haviam sido feitos prisioneiros.

Mas o exército russo assegurou que estes foram enviados para o front por engano e repatriados desde então.

O Kremlin afirma que apenas soldados e oficiais profissionais, que assinaram um contrato, estão lutando na Ucrânia.

“Os recrutas não são enviados e não são incentivados a participar da operação”, garantiu Dmitry Peskov, porta-voz da presidência, nesta sexta-feira.

Mas vários meios de comunicação independentes relataram casos de recrutas que foram coagidos ou fortemente encorajados a assinar um contrato e depois enviados para o front ucraniano.

“Não quero ir para a guerra”, diz Vassili Kravtsov, de 18 anos, que trabalha no setor de alta tecnologia em Moscou.

O governo russo concedeu na semana passada uma suspensão do serviço militar para os funcionários deste setor, para evitar a fuga de cérebros causada pela ofensiva.

Uma decisão que deixou Vassili Kravtsov “muito feliz”.

Konstantin Zaikin, de 17, tem isenção por motivos de saúde. E de qualquer forma, ele não quer “servir no exército russo e ser usado por oficiais para jardinagem”.

“Mas eu serviria no exército israelense, eles têm profissionais de verdade”, continua este jovem moscovita.

Mesmo que as tropas russas tenham se tornado altamente profissionais desde meados dos anos 2000, o recrutamento continua por razões orçamentárias, mas também culturais em um país que há muito cultiva o culto ao exército e ao patriotismo.

E em uma Rússia onde as críticas à ofensiva militar na Ucrânia são agora reprimidas, apresentadas como um conflito defensivo contra os “nazistas” ucranianos, vários jovens russos entrevistados pela AFP aprovam o discurso do Kremlin e dizem que estão prontos para lutar.

“Não quero participar de operações militares, mas se for preciso, irei. Estamos em uma situação em que precisamos de pessoas, estamos nos retirando no momento em torno de Kiev”, declara Semion Petrov, de 18 anos, em referência à retirada observada nos últimos dias das forças russas em torno da capital ucraniana.

“Eu não gostaria de fazer o meu serviço, mas estaria pronto para ir à guerra. Pelos nossos!”, diz Sergei Bojenov, 18, ao especificar que não é “convocável” por motivos de saúde.

Nikolai Smirnov, de 17 anos, não hesita um segundo. “Quero servir e cumprir meu dever. As operações militares neste momento não me preocupam, estou pronto para defender meu país.”