Apesar da insistência do governo federal em tentar olhar o copo da economia “meio cheio”, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, reafirmar uma retomada em V, o crescimento da economia brasileira neste ano será menor do que a média da América Latina. Segundo projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o desempenho econômico para a região este ano será de 5,9%, apesar das recentes dificuldades enfrentadas por países como Argentina, México e Venezuela. Enquanto isso, a previsão de alta de 5,2% para economia brasileira, feita no início de julho, tem sido revisada para algo entre 4,7% e 4,9%.

Um dos mais afetados pela pandemia, o México deve crescer 6,2% neste ano, e 3,2% em 2022. Para a Argentina, a expectativa é de avanços de 7,5% e 2,7%, respectivamente. Já no caso do Chile, a Cepal projeta crescimento de 9,2% neste ano e de 3,2% em 2022. “A dinâmica de crescimento em 2021 reflete o efeito de uma base de comparação baixa devido à queda de 2020”, afirmou a Cepal, em seu relatório.

À primeira vista, os números de crescimento do PIB parecem exuberantes, mas não são. O tal efeito de base comparativa citado pela Cepal é, em outras palavras, uma recuperação parcial do que foi perdido durante 2020. Qual a razão para essa alta? Basicamente, a vacina. “Os efeitos positivos do contexto internacional e da gradual abertura das economias e a flexibilização das medidas de distanciamento físico sustentam essa recuperação.”

Por que, afinal, crescer perto de 5% não é motivo de festa? Porque somente recupera as perdas de 2020. E, pior, a perspectiva no horizonte é mais do que preocupante. O crescimento da economia deve desacelerar forte em 2022, para entre 1,8%, projetado pela consultoria Austin Rating, abaixo dos 2,2% calculados pela Cepal. Na comparação com o restante do mundo, o Brasil também está mal na foto. O desempenho do Produto Interno Bruno (PIB) brasileiro no segundo trimestre de 2021 ocupou o 38º lugar dentro de um ranking com quase 50 países, segundo levantamento elaborado pela Austin. A lista traz os resultados das maiores economias do mundo.

LINHA DE PRODUÇÃO Sem vantagens competitivas no Brasil, montadoras preferem fechar fábricas no País e importar de vizinhos como a Argentina (à dir.) ou até do México. (Crédito:MARIANO SANDA/AFP )

E deve continuar na lanterna. O País, no próximo ano, deverá ter o pior desempenho entre as economias mais relevantes do planeta, segundo o Relatório de Desenvolvimento e Comércio de 2021 da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A entidade cita as incertezas políticas e a crise energética como determinantes para a previsão.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil terá o pior desempenho projetado para 2022 em uma lista de 16 países. E para Patrícia Krause, economista-chefe para a América Latina da Cofase, seguradora de crédito francesa, o dado ainda poderia ser pior.“Essas previsões são um tanto quanto otimistas, visto que temos ainda risco hídrico e as eleições presidenciais, que podem causar ruídos e postergação de investimentos”, afirmou.

EFEITO GLOBAL A Unctad estima que o crescimento global desacelere de 5,3% neste ano para 3,6% em 2022, deixando a renda mundial ainda 3,7% abaixo de onde estaria caso fosse mantida a tendência pré-pandemia. Isso representa uma perda de renda cumulativa esperada de cerca de US$ 13 trilhões no triênio 2020-2022. A produção mundial só encontraria o nível projetado a partir da tendência anterior à pandemia em 2030.

Para a instituição, políticas modestas ou, pior ainda, retrocessos podem puxar o crescimento do mundo ainda mais para baixo. A questão é mais grave ao se considerar que o crescimento na década passada, pós-crise de 2008/2009, já foi o menor desde 1945. Nesse cenário, o Brasil tem uma performance inferior à média mundial, como já mostraram dados divulgados do ano passado e projeções de diversas instituições multilaterais feitas neste ano. O País já teve queda do PIB em 2020 de 4,1%, superior à média mundial (-3,5%). Em um trecho do relatório em que trata especificamente do Brasil, a instituição sinaliza que, apesar do pesado custo humano da pandemia no País, a economia contraiu apenas 4,1% em 2020 em função das políticas fiscal e monetária adotadas, o que significa que ainda há espaço para piora.