O executivo Juliano Ohta, diretor-geral da Saint-Gobain Distribuição Brasil, que controla as bandeiras Telhanorte e Tumelero, foi o convidado da live da IstoÉ Dinheiro, nesta quinta-feira (09). Na entrevista ao editor Hugo Cilo, ele, que já passou por diversas áreas da companhia no Brasil e no mundo, fez uma avaliação do cenário econômico e financeiro nacional e destrinchou o momento que atravessa o segmento do varejo da construção civil no Brasil. Surpreendentemente, acredita ele, depois do estrago vivido nos meses de março e abril, o segmento está se recuperando. “Estamos vivendo um momento anabolizante, com o auxílio emergencial e a ajuda das MPs [Medidas Provisórias] 927 e 936, que estão salvando empregos.” No entanto, para Ohta, sem pessimismo, “o futuro pós-pandemia ficará muito complicado”, advertiu.

A história de Ohta é repleta de sucessos nas quase duas décadas que está na empresa. A rede que comanda é uma das líderes no Brasil do setor de varejo material de construção, presente em quatro estados (São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul) e soma atualmente 72 lojas, sete Centros de Distribuição e cerca de quatro mil trabalhadores. O Grupo Saint-Gobain está entre as 100 empresas mais inovadoras do mundo.

“Assim como as mais diversas empresas, nós passamos por três fases basicamente, a fase de precariedade extrema, às vezes de pânico em que a gente começou realmente a se dar conta da gravidade da situação; a fase de sobrevida, em que a prioridade foi a sobrevivência das vidas humanas, a gente colocou protocolos muito rígidos dentro da empresa, e também da preservação da vida da empresa, de negociar com todos os fornecedores. E agora, a terceira fase, que é a digital, que também é a fase de identificar os erros. Nos demos conta que a gente tava numa bagunça”, disse o executivo.

Em meio a esta tempestade, avalia o CEO, “começamos com muita intensidade a gestão da comunicação. Tem sido super bacana toda essa jornada e a consequência de tudo isto é concluir que o digital mudou de patamar”, avaliou.

“Quando começou a quarentena em São Paulo, adotei uma prática que mantenho até hoje de fazer uma live toda sexta-feira com 100% de nossos funcionários. A ideia da conversa virtual é contextualizar um pouco qual é a tempestade que estamos vivendo, tentando posicioná-los entre uma gripezinha e o fim do mundo”, disse. “Por consequência, respondendo às perguntas dos funcionários, ganhamos a confiança deles.”

Da escuta dos funcionários, Ohta revelou que passou a ouvir os clientes. “A parte mais bonita de tudo isso que é buscar a empatia com os clientes e dos funcionários.” O resultado foi entender as afinidades com os diversos públicos e chegamos à conclusão que “a hora é de servir”, como não deveria ter sido diferente. “Agora, a gente viu muito claramente que as pessoas estão precisando de serviços”, destacou. O segredo para lidar com cada novo desafio, para o executivo, é simples: compreender cada consumidor como único.

Graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Juliano cursou pós-graduação na Harvard Business School (General Management Program) e mestrado pela École Supérieure de Commerce de Paris. Ele avaliou que ao ouvir os funcionários e os clientes em conversas e pesquisas, descobriu-se com exatidão os desejos e necessidades das pessoas.

“Começamos a fazer diversos novos serviços, como frete grátis para profissionais de saúde e pessoas acima de 60 anos, e da entrega expressa [em até 6 horas] para atender emergências”, lembrou. Também implementou o drive thru para pessoas que não querem sair dos carros para comprar. “Mais recentemente, criamos um projeto de ir ao encontro do cliente, por meio de uma van equipada com produtos de reparo e manutenção”, pontuou Ohta.

Defensor da política econômica do governo Bolsonaro, o executivo, na live, disse ser muito favorável a conduta do Governo na parte econômica, porém, ele afirmou que “o dinheiro não está chegando na ponta, como desejado”. Segundo ele, “as pequenas empresas estão sofrendo demais, assim como os indivíduos. As pessoas físicas não estão tendo acesso ao crédito, que está muito restritivo e seletivo, ainda por cima muito caro, apesar de estar no nível mais baixo da história. O que trava o consumo. Assim, logicamente, as empresas vão quebrar e as pessoas não vão ter dinheiro. Acho que existe muita boa vontade do governo em relação ao crédito, mas os bancos não estão permitindo que esse dinheiro chegue na ponta, aonde deveria estar”.

Perguntado sobre o que ele faria se fosse “o CEO do Brasil”, o executivo analisou que as finanças públicas estarão totalmente destruídas no pós-pandemia. “A gente vai ter cortar na carne e de uma forma inteligente: através de reformas inteligentes, a reforma administrativa e imediatamente uma reforma tributária. Faria de tudo para aprovar o o micro imposto, baseado em transações financeiras, que é moderno e leve e diminui a burocracia tributária no Brasil. Só este passo, financiaria toda a retomada do crescimento. A gente precisa aprovar uma reforma tributária adaptada ao século 21, a economia digital e não mais economia naquela economia tradicional e que a gente ficava controlando as mercadorias no posto nas fronteiras de cada estado e que favorece evasão”, avaliou. “A gente tem um camelódromo fiscal”, concluiu.