Em 2012, o paulistano Dante Casarotti ganhou de presente da mulher, Carolina, um curso de cerveja artesanal. Até aquele momento, seu maior interesse em relação à bebida se resumia ao consumo, em ocasiões sociais, e a curiosidade por experimentar novos rótulos. Em janeiro de 2017, Casarotti reuniu o pai, Primo Casarotti, e o irmão, Julio, com quem dividia a gestão de uma recicladora de plásticos, situada na Grande São Paulo, e anunciou a saída do negócio. A partir daquele dia, iria tentar carreira-solo no mercado de bebidas alcoólicas. Nascia assim a Cervejaria Van Been. “Foi um choque para a família”, recorda. “Ninguém entendeu minha decisão de trocar uma posição confortável pelo que eles consideravam uma aventura”. Na época, Dante já estava entrando na casa dos 40 anos e possuía uma poupança que lhe permitia fazer uma aposta de risco.

Hoje, o negócio no qual ele investiu R$ 150 mil segue de vento em popa. São cerca de 700 litros por mês, acondicionados em barris e latas, o que garante um faturamento bruto mensal de R$ 20 mil. “Nossa margem de lucro líquido está em 25%”, diz, com uma ponta de orgulho. Os números podem parecer modestos para o setor de cerveja como um todo, no qual a ordem de grandeza é na casa dos muitos bilhões. Tanto em relação ao faturamento (de R$ 130 bilhões, em 2017), quanto à produção total (foram vendidos 13,3 bilhões de litros, em igual período). Contudo, pode-se dizer que o empreendedor bissexto está se saindo muito bem. Afinal, o segmento de cervejas independentes ganha ao menos dois competidores a cada semana, e hoje conta com 679 fabricantes disputando a atenção do consumidor. Para chegar a até eles, o primeiro desafio é entrar no ponto-de-venda.

Portfólio da Cervejaria Van Been conta com três rótulos e garante receita anualizada de R$ 360 mil

Foi neste quesito que falou mais alto a experiência gerencial adquirida nos 11 anos em que atuou na empresa da família, além dos ensinamentos obtidos no curso de administração. Antes de definir o modelo de negócio, Casarotti foi estudar a fundo este mercado em San Diego – cidade da Califórnia considerada a meca da cerveja cigana, batizada deste modo por ser produzida em empresas terceirizadas. De lá, ele trouxe aprendizados importantes sobre embalagens, sabores e distribuição. Este último é um dos principais gargalos para quem atua com produtos de varejo, especialmente com itens perecíveis como é o caso das linhas da Van Been (L’arrivo, Pieter de Zeeman e Happy Blond). É que por não serem pasteurizadas, as “louras” artesanais necessitam de refrigeração constante e têm vida útil menor em relação às convencionais.

A disponibilidade de recursos e o tempo livre para se dedicar ao novo negócio também se tornaram grandes trunfos nesta caminhada. Casarotti contratou uma assistente e montou um amplo roteiro de visitas na capital de São Paulo e nas cidades do litoral. Conseguiu fechar com 100 estabelecimentos (entre bares, restaurantes e empórios). “Todos que experimentavam as cervejas compravam na hora”, conta. Hoje, são 140 pontos-de-venda, incluindo locais descolados, como o Cão Véio, do renomado chef Henrique Fogaça, o Capitão Barley, o De Bruer Bar e o Empório Alto de Pinheiros, todos reconhecidos como referências no segmento de cervejas artesanais. Pelo lado do custo, Dante explica que fez render os R$ 150 mil graças à estratégia de “brigar por descontos” a todo instante. “Como eu pagava todas as contas à vista, conseguia condições melhores”.

A lista inclui o aluguel de um depósito refrigerado, na capital, e a parceria com a Cervejaria 014, empresa situada na cidade de Avaré (SP) e responsável pela produção. É lá que ele coloca em prática os ensinamentos e alquimias obtidos no curso de mestre cervejeiro, pago pela mulher. Agora, o empreendedor se prepara para dar mais um salto. Dessa vez, com a ajuda da família. A sede da Cervejaria Van Been vai se mudar do home office do empreendedor para uma casa no bairro da Vila Madalena. O imóvel está passando por uma ampla reforma que inclui a instalação de câmara fria, equipamentos para servir chope e decoração temática, na qual está sendo investido R$ 1 milhão.

“Trata-se de um imóvel da família que estava fechado. Mas eu vou pagar aluguel”, explica. Aliás, a ligação com a família continua forte, apesar do baque representado pela opção de seguir carreira-solo como empreendedor. Uma boa amostra disso é que cada cerveja tem como referência os ancestrais holandeses, do lado materno, e italianos, por conta do pai.