Admito que mudei meu ponto de vista. O presidente Jair Bolsonaro é, sim, um mito. Um mito político, social e econômico. O mais esculhambado inquilino do Palácio do Planalto é, de longe, o chefe do Executivo mais torto da história da República – não só pela gravidade dos crimes, mas pela quantidade deles. E isso ajuda a construir o mito. Apenas na gestão da saúde ele terá de responder ao Crime de Pandemia (artigo 267 do Código Penal), Crime de Curandeirismo (artigo 264), Crime de Infração de Medida Sanitária Preventiva (artigo 268), Crime de Advocacia Administrativa (artigo 268) e Crime de Corrupção Passiva (artigo 317). Perto de Bolsonaro, Dilma é uma Madre Teresa. Ainda assim, o presidente vende a imagem de um líder anticrime. Mito.

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Ao ameaçar o uso das Forças Armadas sempre que é confrontando pelos demais poderes, Bolsonaro comete crimes. Ao atacar veículos de imprensa e declarar que “o certo seria fechar isso aí”, ele reforça seu desapreço pela Constituição. Ao dizer que não haverá eleições em 2022, o presidente comete crime e viola os artigos 7º, 8º e 9º da lei 1.079/50, conhecida como Lei de Responsabilidade. Sob aplausos de seus eleitores, que seguem o berrante sem muita noção de rumo, Bolsonaro molda o mito.

Bolsonaro fortalece ainda mais sua aura mitológica ao, cada vez mais, declarar oposição ao que ele exatamente é. Se diz defensor da democracia, mas é um ditador. Alerta para a ameaça do socialismo, mas se comporta como um autoritário bolivariano, militarista e miliciano. No espectro político, o Brasil nunca se pareceu tanto com a Venezuela – não apenas pelos modelitos verde-oliva dos integrantes dos ministérios, mas pelo uso da estrutura de Defesa como engrenagem na gestão da máquina pública.

Na economia, Bolsonaro é um mito. A demora na vacinação – causada principalmente por ele – faz com que a recuperação no País seja uma das mais atrasadas do mundo. Com uma impressionante cara de pau, atribui a crise e o desemprego ao Supremo Tribunal Federal (STF) e aos governadores. A inflação está fora de controle. A imagem do Brasil mundo afora é inspiração de piadas.

Na manhã deste sábado (14), Bolsonaro afirmou que vai pedir ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a abertura de um processo para investigar os ministros do STF Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Segundo o presidente, os togados extrapolam “com atos os limites constitucionais”. Bolsonaro vai apelar ao artigo 52 da Constituição Federal, que determina que compete privativamente ao Senado Federal processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal em casos de crime de responsabilidade. Sim, o irresponsável Bolsonaro vai acusar alguém de crime de responsabilidade. Quanto mais tempo esse governo permanece, mais fica evidente que Bolsonaro é um mito.