Com a queda do consumo no Brasil, em razão da crise econômica, empresas que atuam tanto no mercado doméstico quanto internacional se viram forçadas a buscar mais negócios no exterior. No entanto, uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 3, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o esforço parece ter sido em vão. A participação das exportações na receita bruta das companhias, ao invés de subir, caiu entre 2016 e 2018, indicando que nem mesmo o dólar mais favorável foi capaz de elevar a competitividade dos brasileiros.

Na comparação entre o levantamento de hoje e o anterior, feito em 2016, nota-se que a proporção de empresas cuja exportação corresponde a menos de 20% da receita subiu de 57,1% para 65,9%. Na outra ponta, o grupo de companhias que fatura mais de 80% com o mercado internacional perdeu espaço e passou a representar apenas 10,5% do total, ante 14,1% há dois anos.

O mercado interno ganhou espaço não porque a economia brasileira cresceu, mas sim porque as empresas tiveram dificuldades de conquistar clientes no exterior. Na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), essas dificuldades derivam de problemas estruturais do Brasil e do fato de elas ainda não terem incorporado a internacionalização como parte integral de sua estratégia de negócios.

“Os números mostram que as empresas exportam há bastante tempo, mas o seu negócio é ancorado no mercado doméstico. É importante ter um equilíbrio, dividindo as receitas entre o mercado nacional e o internacional, para que as empresas se protejam em momentos de crise”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.

O diretor ressalta ainda que, para que a economia cresça de forma sustentada, as empresas precisam colocar o mercado internacional no centro de sua estratégia. “Países como a Coreia do Sul buscaram uma orientação exportadora a partir dos anos 1970 e a China, a partir dos anos 1990. Os números mostram que, além de a internacionalização ser importante para o equilíbrio das empresas, aquelas que exportam inovam mais e pagam melhores salários”, diz Abijaodi.

O executivo destacou também que, mesmo com o dólar mais favorável para quem exporta, o mercado internacional não está mais tão demandante como há 10 anos, quando “tinha espaço para todo mundo”. “Hoje está muito mais competitivo, então é difícil para as empresas se posicionarem”, diz.

Entre as principais dificuldades destacadas pelas companhias na pesquisa, o primeiro lugar é ocupado pelas tarifas cobradas por portos e aeroportos, que consideradas altas demais por 51,8% exportadores que responderam às perguntas, numa escala de criticidade que vai de um a cinco.

Na sequência, outros três entraves considerados críticos por uma quantidade que vai 41% a 43,4% dos exportadores são a dificuldade de oferecer preços competitivos, as taxas cobradas por órgãos anuentes e os custos do transporte doméstico (da empresa até o ponto de despacho das mercadorias). No estudo, esses são os porcentuais das empresas que indicaram quatro ou cinco em cada entrave – o que significa que esse entrave “impacta muito” ou que ele é “crítico”, respectivamente.

O estudo da CNI ouviu uma amostra de 589 empresas exportadoras, de todos os setores da economia, não só da indústria.