O economista José Roberto Mendonça de Barros, 56 anos, é um homem de múltiplos talentos. Foi secretário de Política Econômica da Fazenda na primeira gestão de Fernando Henrique, secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior, em 1998, e é referência internacional por seus estudos sobre a agricultura brasileira. Agora, a nova tacada do professor da USP e sócio da consultoria MB Associados é o projeto do Novo Mercado, a Nasdaq brasileira, que deverá estrear em novembro dentro da Bolsa de Valores de São Paulo. Para Mendonça de Barros, é uma oportunidade histórica e não se pode jogar fora esse momento. ?Agora é a hora que a economia está embicando, pronta para crescer?, diz ele. Ele calcula que uma elevação em cinco pontos percentuais na taxa de investimento ? que atualmente está em 20% do PIB ? seria capaz de fazer o Brasil crescer a uma taxa de 6% ao ano. Modestamente, acredita que seu projeto é capaz de avançar um passo nessa direção.

Elogiado pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o projeto tem um foco claro. Ele quer convencer as modernas empresas de médio porte ? aquelas que sobreviveram à abertura do mercado nos anos 90 ? e as empresas brasileiras de Internet a buscar recursos no mercado interno. ?Muitas nasceram sonhando com a Nasdaq, mas não é uma possibilidade aberta a todos?, afirma. ?As grandes sempre poderão captar fora.? Inspirado no Neuer Markt alemão, que foi combatido por beneficiar minoritários mas revelou-se um enorme sucesso, o trabalho de 52 páginas, encomendado pela Bovespa, pretende revolucionar o mercado de capitais. Seus pontos principais:

? assim como a correlata americana, a Nasdaq brasileira só terá ações ordinárias, aquelas que dão direito a voto;

? os critérios de transparência serão muito mais rígidos do que os atuais, exigindo muito mais dados sobre a saúde das empresas;

? a proteção ao acionista minoritário é a pedra fundamental do trabalho. Segundo Mendonça de Barros, somente empresas com perspectivas claras de crescimento e pagamento de dividendos serão aceitas. Quem quiser participar terá que passar pelo crivo de uma comissão da Bolsa.

Hoje, o mercado de capitais brasileiro padece de um severo esvaziamento. Entre outros motivos, porque é oito vezes mais caro operar no Brasil do que em Nova York. Para manter os empresários aqui, Mendonça de Barros quer pegá-los pelo bolso. No Novo Mercado, a ação será lançada valendo mais e os custos de abertura serão barateados. Isso, ele imagina, irá atrair empresas e aplicadores, sobretudo os fundos de pensão e de investimento. Apesar das boas intenções, o projeto não resolve uns dos maiores entraves do mercado de capitais: a CPMF. Sozinha, ela come 0,3% de cada transação na Bovespa. Os custos totais nos EUA são de 0,1%. ?A CPMF é um desaforo?, diz o economista. ?Mas as empresas não têm alternativa. É o Novo Mercado com suas compensações ou a opção pelo endividamento bancário e a estagnação.? Mendonça de Barros espera que em dois ou três anos seja possível colher os primeiros resultados. A Bovespa poderá ser alçada ao posto de uma bolsa regional, atraindo empresas da Argentina, Chile e Uruguai. ?Há grandes possibilidades de a Bolsa brasileira ser a bolsa do Mercosul?. Ahá, eis mais uma idéia saindo da cabeça de Mendonça de Barros.