Recusada de forma sistemática por quase todos os produtores e gravadoras que encontrava, Lily Rose Beatrice Cooper tinha 20 anos quando decidiu postar seu trabalho no Myspace. Era novembro de 2005. Foi o bastante para, em poucos meses, ela virar Lily Allen. A plataforma era uma máquina poderosa. Fez Allen. Fez Arctic Monkeys. Fez Adele. E fez lambança, agora.

Lançada em 2003, virou um fenômeno e apenas dois anos depois foi comprada pela News Corp, de Rupert Murdoch, por US$ 580 milhões. Seis anos mais tarde, em 2011, já decadente seria vendida por US$ 35 milhões para a Viant Technologies – especializada em anúncios digitais. Mas essa depreciação de 94% não foi a maior perda do MySpace. Até domingo 17 de março.

Nesse dia foi postado no blog colaborativo BoingBoing um comunicado lacônico da empresa. “Como resultado de um projeto de migração de servidores, quaisquer fotos, vídeos e arquivos de áudio que você enviou há mais de três anos podem não estar mais disponíveis no Myspace. Pedimos desculpas pelo inconveniente e sugerimos que você retenha suas cópias de segurança.” Isso mesmo. Perdeu-se tudo, ou quase tudo, de 2003 a 2015.

12 anos perdidos:
Myspace (foto) já foi o maior site na web
e lançou artistas como Lily Allen (foto acima em destaque)

Oito meses atrás, na metade do ano passado, o Myspace começou a informar aos usuários que arquivos de música, fotos e vídeos carregados antes de 2015 haviam sido perdidos na migração do servidor. “Não há como recuperá-los”, disse a empresa. Apesar de ser um tema recorrente no Reddit, a questão atingiu um público amplo no fim de semana quando o repórter de tecnologia e blogueiro Andy Baio tuitou sobre os arquivos perdidos.

Ops, sem backup “O Myspace acidentalmente perdeu toda a música de seus primeiros 12 anos em uma migração de servidores, mais de 50 milhões de músicas de 14 milhões de artistas”, escreveu Baio. A princípio, a empresa insistiu que eles estavam trabalhando na recuperação, mas admitiu que todos esses arquivos foram perdidos. Sim, aparentemente não havia backup. A questão fica pior. Isso porque a perda pode nem ter sido erro ou ataque. Andy Baio foi ao ponto. “Estou profundamente cético se isso foi acidente. A incompetência flagrante pode ser ruim, mas ainda soa melhor do que ‘não podemos nos incomodar com o esforço e o custo de migrar e hospedar 50 milhões de MP3s antigos’”.

Muitos usuários do MySpace suspeitavam que o site vinha deletando parte do conteúdo. A plataforma teria começado a deletagem discretamente. Quando se trata de fornecer uma explicação, o MySpace tem sido bastante discreto. Por isso muitos sugerem que a perda tem menos a ver com qualquer falha e mais com sua nova proprietária, a Meredith – em 2016 a Time Inc comprou a Viant, dona desde 2011, e em 2018 a Time foi incorporada pela Meredith –, que teria decidido não mais arcar com custos de manutenção de tantos arquivos. Questionada pela revista Rolling Stone a empresa não se manifestou. O mesmo silêncio que pesa sobre arquivos que não mais existem.