Mya Thwate Thwate Khaing completa 20 anos nesta quinta-feira (11) e luta por sua vida em um leito de hospital. É a primeira vítima da repressão dos generais golpistas birmaneses contra os manifestantes.

Funcionária de uma mercearia, foi baleada na cabeça na terça-feira (9) durante uma manifestação contra o golpe de Estado na capital administrativa, Naipidau.

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“Perdeu as funções cerebrais. Tem poucas chances de sobreviver”, explicou à AFP um médico. “Pela extensão do ferimento, ela foi atingida por munição de verdade”.

A True News Information Unit, uma publicação do Exército birmanês, afirmou que as forças de segurança não estavam equipadas com armas letais naquele dia.

Mas as imagens divulgadas, em particular pela AFP, “contradizem essas afirmações”, denunciou a ONG Anistia Internacional em um comunicado nesta quinta, pedindo a abertura de uma investigação independente.

O Exército birmanês tomou o poder em 1º de fevereiro, prendendo a chefe de fato do governo civil, Aung San Suu Kyi, e outros líderes políticos.

Desde então, centenas de milhares de birmaneses tomaram as ruas em todo o país, inclusive em Naipidau, construída no coração da selva, cerca de 350 quilômetros ao norte de Yangon, a capital econômica.

Os generais ameaçaram retaliar os manifestantes.

– Nossa heroína –

Mya Thwate Thwate Khaing rapidamente se tornou um símbolo para os manifestantes que exigiam a libertação de Aung San Suu Kyi, o fim da ditadura e a revogação da Constituição de 2008, muito favorável ao Exército.

Na quarta-feira, um banner gigante foi desdobrado em uma ponte em Yangon, retratando a jovem inconsciente, vestida com uma camiseta vermelha com as cores da Liga Nacional para a Democracia (NLD), partido de Aung San Suu Kyi.

A raiva também está viva nas redes sociais: “Você é a nossa heroína”, “Reze pelo nosso martírio”, “Este ato de ódio deve ser punido”, diziam internautas nesta quinta-feira no Facebook.

A identidade do atirador permanece desconhecida e alguns lançaram uma caçada na plataforma.

Seu caso também atraiu a atenção da comunidade internacional. “Eles podem atirar em uma jovem, mas não podem roubar a esperança e a determinação de um povo”, tuitou o relator especial da ONU, Tom Andrews.

O uso da força na terça-feira contribuiu para o anúncio de novas sanções dos Estados Unidos contra os generais golpistas.

Mianmar, que já viveu quase 50 anos sob o jugo de militares desde a independência do país em 1948, está acostumada a repressões sangrentas, como a de 1988, que causou quase 3.000 mortos, e a de 2007, que terminou com várias dezenas vítimas.