Na carona do streaming de vídeo, empresas como Deezer, Spotify, Amazon Music, Apple Music, entre muitas outras, crescem como nunca com música e informação on demand. E é nesse contexto que o podcast tem brilhado. Criado em 2004, o formato engatinhou durante quase uma década, registrando uma receita global de apenas US$ 45 milhões em 2013. Mas esse cenário mudou. Com produções que vão de notícias a astrologia, ficções, aulas de idiomas e até contos eróticos, o podcast vem ganhando força desde 2018, e deve movimentar seu primeiro bilhão de dólares neste ano. É o que diz uma pesquisa da Deloitte sobre tecnologia, mídia e telecomunicações, que prevê o encerramento de 2020 com uma receita global de US$ 1,1 bilhão. Se continuar nessa frequência, os resultados devem ser ainda melhores, atingindo US$ 3,3 bilhões de receita global em 2025.

E a pandemia global tem responsabilidade nisso. Segundo Marcos Swarowsky, que comanda as operações da Deezer América do Sul, plataforma de streaming francesa que tem o Brasil como segundo principal mercado atrás apenas do país de origem, o cancelamento de shows e eventos após a pandemia intensificou a dependência dos streamings. “O Brasil é o 10º maior mercado da indústria fonográfica do mundo. Aqui, as pessoas tendem a pular nas tendências muito rápido, principalmente nas digitais”, afirmou.

NEGÓCIO SÉRIO Para a maior produtora de podcasts do Brasil, grandes marcas veem no podcast uma forma de consolidação do espaço e já investem em produções próprias. (Crédito:Agê Barros)

No ano passado, o mercado alcançou a marca de 700 mil séries de podcasts e 29 milhões de episódios. No entanto, esses números estão bem defasados. Segundo a Deloitte, os podcasts vão crescer 30% neste ano. Embora ainda longe de atingir a receita de mercados concorrentes como o rádio (US$ 42 bilhões) e a música gravada e ao vivo (US$ 51 bilhões), os resultados do podcast chamam a atenção. “Em um mundo onde o crescimento geral da mídia e do entretenimento é de apenas 4%, o crescimento anual de 30% é impressionante”, afirmou a consultoria, em seu relatório. Parte desse crescimento pode ser justificado pela disseminação de alto-falantes inteligentes que, segundo a Deloitte, possuem 25% de penetração de mercado somente nos Estados Unidos, ganhando espaço no restante do mundo a cada dia. O dispositivo é muito popular entre ouvintes de podcasts e audiolivros. A pesquisa mostra que, nos Estados Unidos, 66% dos proprietários de alto-falantes inteligentes ouvem pelo menos um podcast ou audiolivro semanalmente.

Para Luiz Felipe Marques, fundador da Orelo, plataforma de streaming de áudio criada em julho deste ano com o propósito de remunerar os criadores de podcasts, o uso desses dispositivos está dando protagonismo ao áudio. “As pessoas estão cansadas do vídeo porque passaram a associá-lo a uma reunião ou aula. É bom ter esse momento de não precisar olhar para tela”, disse. Estudo da Deezer constatou que 25% dos ouvintes brasileiros consomem mais de uma hora de podcast por dia.

RUÍDOS Remuneração para produtores e criadores ainda é falha. Buscando reverter isso, a novata Orelo promete focar na valorização da cultura e repassar R$ 10 milhões aos podcasters no primeiro ano de vida da plataforma. (Crédito:Divulgação)

MONETIZANDO Com o crescimento de ouvintes – que passou de 17,3 milhões em 2019 para quase 34,6 milhões neste ano – cresceu o número de produtores. Pelos cálculos da Associação Brasileira de Podcasters (ABPOD), 70,3% dos produtores iniciaram os programas a partir de 2018. Monetizar o mercado, entretanto, ainda é um problema. Para Swarowsky, da Deezer, essa dificuldade é resquício da pirataria. “Foi criada uma mentalidade nos consumidores de que a música deve ser gratuita”, afirmou.

Na avaliação de Juliana Wallauer, sócia da B9, maior produtora de podcast do Brasil, e coautora de um dos podcasts mais ouvidos do País, o Mamilos, a produção de podcast cresceu com a entrada de novos criadores, inicialmente por hobby, e com a busca por tapar o buraco de produtoras após o cancelamento de shows e eventos. “Na B9 nós produzimos 16 podcasts contra nove podcasts em 2019. Foram 365 episódios, um por dia, é muita coisa”, afirmou. Para ela, 2021 promete ser um excelente ano para o mercado. “As marcas estão mais maduras, criando seu podcast próprio, investindo mais dinheiro e sabendo melhor o que querem”. Com um oceano de possibilidades pela frente, o mercado de podcast no Brasil apenas começa.