Rupert Murdoch não é propriamente uma figura emergente no cenário dos negócios globais. Nas últimas três décadas o magnata australiano dita o ritmo das transações no mundo da mídia e tem seus passos acompanhados de perto onde quer que esteja. Sempre há, no entanto, mais a se saber sobre ele ? e mais motivos para procurar conhecê-lo melhor. Eis um novo: Murdoch está prestes a multiplicar sua influência nas comunicações no Brasil com a provável aquisição, pelo seu grupo News Corp., do controle da Net, problemática empresa de TV por assinatura das Organizações Globo, de quem é sócio em outras empreitadas. Nada mais oportuno, portanto, que um curso
intensivo sobre o mundo desse imperador da mídia, implacável e insaciável mesmo já tendo superado a barreira dos 70 anos. A bibliografia indicada é abundante e inclui obras como Murdoch: The Making of a Media Empire (Murdoch: a Construção de um Império da Mídia), de William Shawcross, ou The Highwaymen: Warrior of The Information Highway (Guerreiros da Estrada da Informação), de Ken Auletta. Novidade nas prateleiras é o livro Rupert Murdoch: The Untold Story of the World?s Greatest Media Wizard (A história não Contada do Maior Mago da Mídia Mundial), escrito pelo jornalista australiano Neil Chenoweth.

 

Pretensiosa desde o título, essa biografia não autorizada retrata as várias fases da trajetória de Murdoch à frente do News Corp., iniciada há 49 anos quando Murdoch herdou um pequeno jornal, à beira da bancarrota, em Brisbane, na Austrália. Na introdução, o autor indica como ela deve ser lida: nas entrelinhas. Isso porque Chenoweth não esconde aversão aos métodos usados pelo magnata para expandir seus poderes mundo afora. Não por acaso, a maior parte do livro é dedicada às transações mais nebulosas, que vão dos processos por sonegação de impostos em vários países e os passeios de sua fortuna por paraísos fiscais aos sigilosos acordos de gaveta com outros titãs das comunicações. As investigações de Chenoweth concentram-se principalmente sobre três momentos cruciais ? no início dos anos 80, quando Murdoch sacudiu pela primeira vez os EUA com um projeto para abocanhar uma rede de TV no país; em 1991, quando o grupo quase ruiu em uma queda de braços com um consórcio de bancos credores; e na segunda metade da década passada, momento em que avançou definitivamente sobre as rivais americanas, driblando gigantes como Ted Turner, da CNN, Gerry Levin, da Time-Warner, John Malone, da AT&T, e Ron Perelman, da New World Communications Group, para tomar o controle do grupo de emissoras e estúdios cinematográficos sob o guarda-chuva da lendária Twentieth-Century Fox. Chenowet descreve Murdoch como um conspirador irrefreável e imbatível, mas também relata com certa admiração sua capacidade de reagir a crises e de virar jogos quase perdidos. ?A moral da história é simples: os sobreviventes mandam?, escreve. Murdoch é um deles. Por conta disso, tem conduzido as mudanças mais importantes no meio das comunicações em cada mercado para o qual aponta suas baterias. O Brasil pode ser o próximo.

A obra de Chenoweth contempla ainda as conflituosas relações familiares no clã Murdoch. O magnata enfrenta um processo litigioso com sua primeira mulher, Anna, que desgastou também a convivência com os três filhos. Murdoch vinha, aos poucos, entregando a eles posições estratégicas nos negócios do grupo. Mas, insatisfeito com o desempenho da nova geração, parece convencido a manter-se ativo e centralizador, absoluto na definição dos destinos de suas empresas ? e, por conseqüência, influindo em toda a indústria das comunicações ao redor do mundo.