Os pessimistas venceram a aposta. Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculou que o mundo cresceria 3,5% este ano. Em abril, a estimativa caiu para 3,3% e agora foi para 3,2%. A redução parece pequena, mas não é. Ela significa um mundo com menos produção, menos comércio e, consequentemente, menos emprego. Os vilões são nossos velhos conhecidos: o protecionismo e as tensões geopolíticas. O problema é que nada disso tem solução simples e a desaceleração global deve continuar.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China é a principal consequência do modelo protecionista adotado pela administração de Donald Trump. Na última semana, o secretário de comércio dos EUA, Wilbur Ross, em visita ao Brasil, negou veementemente que seu país seja protecionista, ainda mais quando comparado à China e à Europa. Especialistas, no entanto, não têm dúvidas de que a política comercial americana não é tão liberal quanto declara ser. Eles usam como exemplo as tarifas impostas não só à China, mas também sobre México, Coreia do Sul e Brasil.

“Primeiro Trump mirou a China. Depois deve focar na Europa”, diz Desmond Lachman, economista do think tank American Enterprise Institute (AEI) e ex-vice diretor de Políticas de Desenvolvimento do FMI. “Carros feitos na Alemanha e Itália devem ser sobretarifados e isso irá piorar ainda mais a situação.” Soma-se a isso a acirrada disputa no campo dos avanços científicos, incluindo aí a tecnologia 5G, liderada pela China.

Sem fôlego: representantes do FMI anunciam mais uma redução de estimativa. Guerra comercial, Brexit e tensões tecnológicas estão entre os culpados (Crédito:REUTERS / Rodrigo Garrido)

Brexit No entanto, os Estados Unidos não são os únicos responsáveis pela desaceleração. A China já vinha reduzindo a velocidade de crescimento desde 2010 e a Europa enfrenta várias incertezas. “Casos como o Brexit impedem que tanto o Reino Unido quanto a União Europeia tenham confiança de fazer novos investimentos”, pondera Lachman. Os próprios Estados Unidos, preocupados com o ritmo da economia, fora e dentro de casa, reduziram os juros pela primeira vez em dez anos, de 2,5% para 2,25%.

O FMI é categórico: “Países não devem usar tarifas para atingir saldos comerciais. As políticas devem, em cooperação, fortalecer o sistema de comércio multilateral baseado em regras”, diz documento do fundo. No entanto, EUA, China e Europa, os três maiores players do comércio internacional, não dão sinais de que devem mudar sua estratégia. Americanos e chineses ainda não mostram sinais claros que irão diminuir suas tarifas e o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já afirmou que o Reino Unido irá sair da União Europeia custe o que custar.

Para países como o Brasil, a perspectiva é pior ainda. “A tendência para os próximos anos é de comércio internacional menor”, diz Silvio Campos Melo, da consultoria Tendências. “Por isso, o Brasil tem que correr contra o atraso.” Nisso os pessimistas também acertaram: o pibinho brasileiro fica ainda menor que o do mundo.