Apenas 37,4% dos cargos gerenciais são ocupados por mulheres no Brasil, de acordo com pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Estatística). Considerando empresas globais, estudo divulgado pela Bloomberg em janeiro deste ano revelou que as mulheres ocupam apenas 31% dos cargos de lideranças.

A especialista em carreira e fundadora da Bússola Executiva, Patricia Y Agopian, diz que ser mulher em um ambiente corporativo, ainda esbarra em uma grande dificuldade cultural. “É difícil, mas é possível pensar em um cargo, independentemente do gênero. Sabemos que ainda existem muitas diferenças de oportunidade e salários entre homens e mulheres, mas isso precisa acabar. Como? É fundamental que as companhias definam e sigam – políticas sérias relacionadas à igualdade de gênero. E da nossa perspectiva enquanto mulher, fazer a diferença, se tornar desejada pelo mercado de modo que o fator gênero passe a não importar mais, como eu fiz”, defende a especialista.

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Estudo inédito realizado pelas instituições Movimento Expansão, NOZ Inteligência, Plataforma Empreendedoras Maduras e o Grupo Mulheres do Brasil, que traçou um verdadeiro raio x dos negócios liderados por empreendedoras brasileiras, mostra que quando se fala em empreender no Brasil, logo se pensa em entraves como a falta de crédito, juros altos, instabilidade na dinâmica do mercado e burocracias. Agora imagine mergulhar no universo de mais de 30 milhões de empresas lideradas por mulheres.

Além da falta de crédito, os juros são maiores em relação aos empréstimos adquiridos por empresas lideradas por homens, há menos interesse por parte de investidores, baixo investimento em tecnologia, ausência de apoio no mundo dos negócios e pouca visibilidade nos meios de comunicação.

Claudia Gimenez, que ocupa o posto de CEO entre as principais empresas do setor de BPO – Business Process Outsourcing, observa que ainda é a única mulher nas salas de reunião.

À frente da multinacional desde 2015, a argentina passou por diversas áreas até chegar ao cargo de executiva. “Passei por qualidade, relacionamento e negócios”, lembra. Em 2015, ela recebeu a proposta para liderar o projeto de expansão da Concentrix no Brasil.

A empresa estava em um momento estratégico de crescimento – na época, eram apenas cem colaboradores; hoje são mais de 11 mil. Após entrar para a companhia global de serviços como responsável por um projeto pela Costa Rica, Nicarágua e Brasil, Claudia implementou o processo de certificação COPC® em uma das maiores contas da América Latina, resultando em uma conquista sem recomendações (clean audit). Sua trajetória chamou a atenção da alta liderança e a levou a receber o convite para assumir a vice-presidência e gerência-geral da Concentrix Brasil, em 2019.

Hoje, a Concentrix possui 47% de mulheres na liderança e apoia iniciativas para selecionar e promover talentos de outros grupos com menor representatividade nas empresas, como LGBTQIA+ e pessoas negras.

Tatiana Rezende, CFO da Nuvemshop, chegou na companhia no início de 2020, pouco antes de ser decretada a pandemia. “Nestes 24 meses, a empresa passou por momentos especiais e, mesmo com a gestão de crise na pandemia, conseguimos fazer rodada de capitação e aquisições”, conta.

“Historicamente, vivemos numa sociedade que tem escassez de mulheres na liderança e isso acaba criando uma inércia. Precisamos quebrar ou diminuir as barreiras para mulheres chegarem ao topo da hierarquia”, diz.

“A área de RH tem uma grande presença de mulheres. Considero que, por este motivo, não enfrentei grandes barreiras para assumir posições de liderança, foi algo construído ao longo da minha carreira de forma natural. No entanto, de um modo geral, como em outras áreas, a remuneração das mulheres ainda é menor que a dos homens e há menos mulheres em posições de CEO, CFO etc. O mercado está evoluindo, estes temas estão sendo debatidos com maior frequência, mas há bastante espaço para haver mais equidade”, afirma Mara Acocella Festucia, sócia e head de talent management da Vórtx.