“Lugar de mulher é no fogão”. Afirmações como essa estão caindo por terra, derrubando uma cultura de décadas a fi o na qual se fala que o homem é quem tem que sair para trabalhar e prover a família. Atualmente, o universo corporativo foi invadido pelas mulheres, que ganham destaque trabalhando em áreas onde a predominância é totalmente masculina, como é o caso do mercado financeiro.

O mercado financeiro virou um tema atraente para as mulheres, que hoje respondem por mais de 46% da população ativa no Brasil. Ter uma profi ssional feminina presente na mesa de operação da bolsa de valores era algo inimaginável há alguns anos. Hoje, elas mostram sua força e contam com a tecnologia para se impor em um ambiente onde antigamente era marcado por gritos e gestos nervosos de homens em busca dos melhores resultados nas aplicações.

Para o professor Ricardo Rocha, do Insper, que acumula longa experiência de atuação no mercado financeiro como profissional e acadêmico, a mulher tem algumas características que favorecem sua atuação no mercado financeiro – que hoje envolve muito mais do que bancos de investimentos. “Elas são mais analíticas, menos explosivas, têm maior capacidade de solução de confl itos e de aglutinar decisões”. A intuição também é algo que as coloca em pé de igualdade com os homens. “Isso é algo que não tem nada a ver com conhecimento intelectual. É uma particularidade que é um ponto forte das mulheres desde o estado primitivo da humanidade.”

Apesar desse crescimento, ingressar no mercado e construir uma carreira de sucesso implica em vários desafi os para as mulheres, incluindo encarar o preconceito, que em pleno 2018 ainda está presente. O julgamento é constante: a idade, o gênero e a capacidade profi ssional. Um descuido, por menor que seja, pode destruir a credibilidade construída durante anos – seja por uma simples frase, mensagem ou um decote maior do que o normal.

Cargos em bancos de investimento, mercados de capitais e serviços financeiros atualmente são ocupados por um grande número de profissionais do sexo feminino. “Nota-se também um número equilibrado de homens e mulheres sendo admitidos em vagas de trainees em grandes empresas do mercado”, enfatiza Rocha.

A influência feminina está crescendo também em cargos executivos de empresas de serviços financeiros. Se mantiverem as taxas atuais de crescimento, de acordo com uma pesquisa mundial feita pela Women in Financial Services, os comitês executivos femininos atingirão 30% de participação até 2048.

NA ACADEMIA

Com o aumento do interesse pelo mercado financeiro, as salas de aula das principais universidades que oferecem cursos voltados para o tema em diversas esferas – graduação, pós-graduação, MBA, mestrado e doutorado – registram a presença de um número cada vez maior de alunas – mais de 30% são mulheres – em busca de novos conhecimentos e atualização. “Elas são curiosas, gostam de debates e não levam dúvidas para casa”, destaca Rocha.

No Insper, por exemplo, a obrigatoriedade de cumprimento de algumas disciplinas de finanças em cursos como Economia e Administração permite às alunas conhecer vários campos de atuação, o que, de acordo com o professor Rocha, ajuda na escolha do melhor caminho a seguir dentro do mercado. Cursos de pós-graduação em Finanças também tem sala com um grande número de mulheres. “São alunas que já estão no mercado e buscam atualização, pois dependem disso para dar novos saltos na carreira”, destaca Rocha.

Constantemente, o professor do Insper convida executivas do mercado fi nanceiro para contar sobre sua experiência profi ssional em sala de aula, o que enriquece ainda mais o conhecimento e auxilia as alunas a traçar seu norte profissional. “As profi ssionais trazem um pouco das dores e desafi os que as alunas vão encontrar no mercado, mas mostram também que é possível construir uma carreira de sucesso”.

Aos 23 anos, Letícia Rey, aluna de economia do Insper, já trabalha em um grande banco de investimentos na área de trade com foco em volatilidade de ações, tema bastante específico e com poucos especialistas no mercado. “Sou intensa, dedicada, resiliente, ansiosa, curiosa e dinâmica, além de movida a novos desafios. Acho que essas características se encaixam bem em um perfi l de trabalho onde não existe a palavra rotina”, declara.

Já a aluna de MBA de Finanças da casa, Carolina Couri, de 35 anos, atua há 10 anos no mercado financeiro, também em banco de investimentos. Seu grande desafio hoje é equilibrar a vida pessoal e profissional. O segredo, segundo ela, é saber delegar, priorizar e ser assertiva.


Conselhos

Encarar os desafios do mercado financeiro requer dom, preparo, muito estudo, capacidade analítica, e, acima de tudo, fazer o que gosta. “É preciso gostar de números, de elaborar cenários e monitorar resultados, além de lidar bem com o fato de ter que trabalhar sob pressão o tempo todo”, diz Rocha.