Fahmidah Bibi, já nas últimas semanas de gestação, aguarda impacientemente, junto com sua filha de quatro anos, a chegada de um médico a um acampamento para desabrigados pelas enchentes no Paquistão.

Instalado no local de uma pequena estação de trem nos arredores de Fazilpur, na província de Punjab (centro), este acampamento abriga cerca de 500 pessoas, no único lugar ainda seco nesta área completamente inundada.

Fahmidah, de 40 anos, chegou há pouco mais de uma semana com seus cinco filhos e os pais de seu marido.

“Preciso de um médico ou de uma parteira. E se acontecer alguma coisa com meu filho?”, pergunta Fahmidah, grávida de nove meses e com dores nos pés.

As inundações, desencadeadas por chuvas recordes de monções, afetaram mais de 33 milhões de pessoas e causaram pelo menos 1.300 mortes.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) anunciou no sábado que ao menos 128.000 mulheres grávidas presentes nas áreas inundadas precisavam de ajuda urgente, das quais 42.000 dariam à luz nos próximos três meses.

Fahmidah não vê um médico há um mês. Ela dorme ao ar livre em uma cama de corda trançada tradicional que compartilha com seus cinco filhos, de quatro a doze anos.

Neste enorme acampamento, há pelo menos cinco outras mulheres grávidas. Todas reclamam da falta de médicos ou parteiras.

– Sem roupa para o bebê –

Procurando desesperadamente por ajuda, Fahmidah tentou atravessar os campos inundados para chegar à cidade. Mas escorregou, caiu várias vezes e teve que abandonar a ideia.

Só de pensar em dar à luz neste lugar a apavora. Os deslocados sobrevivem como podem com seu gado, e as instalações de saúde são quase inexistentes.

As moscas e mosquitos são uma legião na área, assim como o mau cheiro que vem da água encharcada, cheia de excrementos e vegetais em decomposição.

“Não tenho nada pronto para quando o bebê chegar”, confessou Fahmidah à AFP. “Não tenho nem roupa para cobri-lo, as enchentes levaram tudo”.

Assim como Fahmidah, Saira Bibi, grávida de cinco meses, espera desesperadamente por um médico.

Com apenas 25 anos, Saira já tem quatro filhas. Mas seu marido e sua família a pressionam a ter um menino. Seu marido ameaçou deixá-la se ela não conseguir.

“Tive um filho depois das quatro meninas, mas ele morreu”, diz ela, contando que depois passou por tratamento de fertilidade para engravidar novamente.

Agora ela teme não ser capaz de levar sua gravidez até o fim.

Fahmidah já sabe que terá um menino e já decidiu que se chamará Ali Raza. Ela espera que um dia se torne um alto funcionário do governo e possa levá-la em uma peregrinação.

“Sei que ele levará a mãe para Meca”, afirma.