O Laticínios Bela Vista, dono da marca Piracanjuba, fez um movimento importante no mercado a partir de 2019 ao adquirir três fábricas da Nestlé, nos estados de Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo. Junto com as unidades em Goiás, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, conseguiu aumentar em 28% a captação de leite do Brasil, para 1,8 bilhão de litros em 2020, o que garantiu a liderança no ranking. Bateu a própria Nestlé, que estava no topo havia 23 anos. Em 2021, manteve-se na posição. Os dados são da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite). Apesar da conquista histórica, a companhia registrou queda de 2,5% no volume captado no ano passado. O mercado recuou ainda mais: 3,5%, com grandes players sendo mais impactados, como Jussara (-5,8%), Nestlé (-7,4%), Vigor (-9,7%) e Danone (-9,9%).

Com volume em queda, a estratégia precisava olhar para outros horizontes. No caso da Bela Vista, entraram na agenda projetos que haviam sido paralisados durante a pandemia e que miram três frentes: novos produtos, reforço digital e novas frentes de produção. Na primeira dessas frentes está o lançamento de produtos de maior valor agregado. “No segmento alimentício, a qualidade é cada vez mais um imperativo”, afirmou Cesar Helou, proprietário e superintendente da Piracanjuba, em mensagem no Relatório de Sustentabilidade 2021. “A expectativa é continuar surpreendendo os consumidores com novidades e produtos práticos.” São as apostas para fermentar a receita que vem crescendo e que atingiu R$ 6,4 bilhões em 2021, alta de 12,4% sobre 2020.

Silvia Costanti

“No segmento alimentício, a qualidade se mostra cada vez mais um imperativo” Cesar Helou, dono da Piracanjuba.

Entre as novidades da marca está a linha de produtos para complementar a alimentação das crianças na idade pré-escolar desenvolvidos pela divisão científica Piracanjuba Health & Nutrition, criada em meados de 2020. Um deles é o excellence (com letra inicial em minúscula), composto lácteo de vitaminas e minerais comercializado nas versões lata e sachê, ambas de 800g. Há também a versão pronta para consumo, em 200 ml, que dispensa diluição e pode ser consumido diretamente na caixinha. Os lançamentos estão há apenas um mês no mercado.

CLASSE MÉDICA De acordo com Luiz Cláudio Lorenzo, diretor comercial do Laticínios Bela Vista, o produto de caixinha é inovador, com prazo de validade de cinco meses. “Dá muito mais praticidade para a mãe e os concorrentes não possuem”, afirmou Lorenzo. Também faz parte do plano levar informações sobre o produto para a classe médica – nutricionistas, ortopedistas e pediatras. “É um item que não precisa de prescrição, mas é importante ter o endosso, seja de profissional ou de familiares, para ganhar mercado”, disse. Para se aproximar dos médicos, a Piracanjuba tem participado de congressos e feiras de saúde. Inicialmente, o item está disponível em canais para o trade, mas o caminho natural é avançar para as gôndolas de redes de varejo.

Além do foco em lançamentos de maior valor agregado, as outras duas frentes estratégicas envolvem o universo digital – a Piracanjuba, que já estava no aplicativo Bees, de compra e revenda por pequenos e médios varejistas, agora está no Zé Delivery, plataforma também da Ambev de entrega de bebidas – e a retomada das obras de construção da nova unidade industrial, que promete ser a maior fábrica de queijos do Brasil. A planta está sendo instalada na cidade de São Jorge D’Oeste, no sudoeste paranaense. Ficou parada desde o início da pandemia, no começo de 2020. A expectativa é que seja concluída em 2024, para expandir a atuação na linha de queijos para o Sul e Sudeste – hoje está concentrada nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A receita de crescimento da Piracanjuba leva muito mais que leite.