O presidente eleito Emmanuel Macron travará uma batalha crucial nas legislativas de junho, nas quais a direita espera conseguir uma revanche, a esquerda pretende evitar o fracasso total e a extrema-direita tentará entrar com força no Parlamento.

Para governar, o jovem centrista e defensor da UE precisa de uma maioria forte no Parlamento. Mas qualquer projeção é incerta, pela recomposição política em curso e as possíveis alianças até a data limite de apresentação de candidaturas, 19 de maio.

O futuro presidente, desconhecido há três anos, e depois protagonista de uma ascensão meteórica, aposta que os franceses darão maioria a seu governo, como sempre fizeram com um novo chefe de Estado.

Para Jérôme Sainte-Marie, do instituto Polling Vox, Macron tem “uma vantagem”: “É compatível com parte da esquerda e parte da direita”.

Ao mesmo tempo, “isto representa o risco de contradições insuperáveis”, adverte o cientista político Philippe Braud.

De acordo com uma pesquisa, o jovem movimento Em Marcha! de Macron, criado em abril de 2016, obteria entre 24 e 26% dos votos nas legislativas, diante do partido de direita Os Republicanos (22%), da Frente Nacional (21-22%), da esquerda radical (13%-15%) e do Partido Socialista (8-9%).

O novo presidente prometeu revelar esta semana os seus candidatos nas 577 circunscrições francesas. Ele disse que metade deles seriam novatos na política e procedentes da sociedade civil.

Macron já fechou acordo com o veterano centrista François Bayrou e tenta atrair personalidades socialistas e da direita, que entrariam na disputa com o nome “maioria presidencial”.

O nome do primeiro-ministro e a composição de seu governo, que serão anunciados após a posse, prevista para domingo, também devem influenciar os eleitores nas legislativas, chamadas de “terceiro turno” presidencial.

– ‘Derrotados, mas não mortos’ –

A derrocada da direita e dos socialistas, eliminados no primeiro turno da eleição presidencial, não significa necessariamente uma derrota de seus candidatos nas legislativas, pois alguns deles estão bem posicionados localmente.

Especialmente na direita: o cientista político Philippe Braud atribui a derrota na disputa presidencial a um “fracasso pessoal” do candidato conservador François Fillon, que ficou em terceiro lugar depois de ter sido indiciado por “desvio de fundos públicos” em um caso de supostos empregos fantasmas.

Os Republicanos, passado o pesadelo da eleição presidencial, sonham em obter maioria nas legislativas, impor a Macron uma “coabitação” e obrigar o presidente a designar um primeiro-ministro de seu lado político.

“Macron é um colosso com pés de barro, eleito sem gana nem entusiasmo. Estamos derrotados, mas não mortos”, afirmou o vice-presidente do partido Os Republicanos, Laurent Wauquiez.

Ao mesmo tempo, a extrema-direita espera estabelecer sua presença de maneira sólida no cenário político francês, graças à dinâmica da eleição presidencial, que permitiu a Marine Le Pen receber 10,6 milhões de votos no segundo turno, o melhor resultado de sua história a nível nacional.

A Frente Nacional (FN) já se considera o “principal partido da oposição”, mas não será tão fácil conquistar muitas cadeiras no Parlamento.

A votação com sistema majoritário em dois turnos não é favorável ao partido. A FN tem apenas dois deputados atualmente.

Graças aos sete milhões de votos no primeiro turno, o líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon também espera obter um bom resultado nas legislativas, mas suas dificuldades em fechar alianças com os comunistas ou os ecologistas podem custar várias cadeiras.

Por fim, o Partido Socialista, cujo candidato Benoit Hamon foi humilhado no primeiro turno (6,35% de votos), permanece dividido entre os que desejam uma aliança com a esquerda radical e aqueles que pretendem integrar a “maioria presidencial”, como o ex-primeiro-ministro socialista Manuel Valls.