Ômicron: a nova variante da covid-19 que preocupa o mundo ganhou o nome de um vilão de filme de ficção científica, mas até o momento pouco se sabe sobre ela.

– De onde vem?

Não se sabe. De acordo com o epidemiologista sul-africano Salim Abdool Karim, foi detectada pela primeira vez no Botswana antes de ser identificada na África do Sul, que a anunciou em 25 de novembro.

As autoridades holandesas declararam na terça-feira que a ômicron estava presente na Holanda no dia 19 de novembro, com base em um teste realizado naquela data.

Mas não se pode deduzir que a ômicron circulou na Europa antes da África Austral. De acordo com a OMS, “foi detectado na África do Sul pela primeira vez em 24 de novembro, e o primeiro caso confirmado laboratorialmente foi identificado a partir de uma amostra obtida em 9 de novembro”.

“Provavelmente circulava pela África do Sul (…) há mais tempo do que se pensava, desde o início de outubro”, explicou na quarta-feira Jean-François Delfraissy, presidente do Conselho Científico que orienta o governo francês.

– Por que preocupa?

No dia seguinte ao anúncio na África do Sul, a OMS classificou a nova variante como “preocupante” e deu-lhe o nome de uma letra grega, como as anteriores.

As preocupações no momento são teóricas: de um lado, vêm das características genéticas da ômicron e, de outro, do que está acontecendo na África do Sul.

Do ponto de vista genético, apresenta um número de mutações sem precedentes, cerca de trinta na proteína spike, chave para a entrada do vírus no corpo.

Com base na experiência de variantes anteriores, sabe-se que algumas dessas mutações podem estar associadas ao aumento da transmissibilidade e à diminuição da eficácia das vacinas.

“Se nos basearmos na genética, é algo muito particular que pode ser preocupante, mas por enquanto isso é tudo”, disse à AFP Vincent Enouf, do Centro Nacional de Referência de vírus respiratórios do Instituto Pasteur de Paris.

Os casos atribuídos a esta variante e a porcentagem de casos estão aumentando muito rapidamente na província sul-africana de Gauteng (que inclui Joanesburgo), onde foi detectada pela primeira vez.

Levará “várias semanas” para entender melhor a natureza da ômicron e saber se ela é mais transmissível, mais perigosa e mais resistente às vacinas, observou a OMS.

– Vai superar a variante delta ?

É a grande questão, que ainda não pode ser respondida.

Atualmente, a delta é quase hegemônica no mundo, graças às suas características, que lhe permitiram substituir a alfa.

As variantes que surgiram nos últimos meses (mu e lambda) não conseguiram arrancar o primeiro lugar.

A situação na província de Gauteng levanta preocupações de que o ômicron possa destronar a delta. Embora, ao mesmo tempo, a delta esteja pouco presente na África do Sul.

Se a tendência se confirmar, a ômicron pode prevalecer na Europa “nos próximos meses”, estimou nesta quinta-feira o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), embora essa previsão seja provisória.

“Ainda não se sabe se a proliferação vem do aumento da transmissibilidade, como delta, ou escape antigênico” (a capacidade de reinfectar pessoas que já foram infectadas no passado ou vacinadas), disse o especialista americano Eric Topol no Jornal britânico The Guardian.

No momento, a ômicron foi detectada em vários países em todos os continentes.

– Mais perigosa?

No domingo passado, uma médica sul-africana disse que só notou “sintomas leves” em cerca de trinta pacientes.

Mas a comunidade científica alertou imediatamente contra qualquer conclusão precipitada, visto que esses pacientes eram jovens, o que significava menos tendência a sintomas graves da doença.

No momento, todos os casos documentados na Europa “não apresentam sintomas ou são leves”, disse o ECDC.

“Se a ômicron for muito transmissível mas sem ser nociva (sem encher os hospitais) isso daria imunidade a um grupo e contribuiria para atenuar o SARS-CoV-2 e a transformá-lo num vírus benigno, o que levaria ao fim da crise”, frisou o virologista francês Bruno Canard no Twitter. No entanto, este mesmo especialista aponta que se trataria de um “golpe de sorte”.

– Qual o impacto nas vacinas ?

No momento, não se pode dizer que esta nova variante reduz a eficácia das vacinas, embora tudo suscite receio.

“É preciso verificar se os anticorpos produzidos pelas nossas vacinas atuais continuam funcionando, até que nível e se isso evita casos graves”, explica Vincent Enouf.

Para tal, testes laboratoriais são realizado e com base em dados reais dos países em questão.

O laboratório alemão BioNTech, aliado da Pfizer, espera os primeiros resultados “no máximo em duas semanas”, disse um porta-voz à AFP.

“É urgente adaptar vacinas de RNA e doses de reforço às variantes em circulação”, estimou o virologista francês Etienne Decroly no Twitter.

Apesar de tudo, a vacinação continua essencial. Assim como o acesso dos países pobres às vacinas, insistem os cientistas.

“Quanto mais o vírus circula, mais ele evolui e mais mutações veremos”, alertou uma das responsáveis pela OMS, Maria Van Kerkhove.