A mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, pode causar ruído nas relações entre o País e o mundo árabe, afirmam especialistas. Na última semana, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) disse ao jornal Israel Hayoun que a representação nacional deve ser transferida. Na segunda-feira (5), em retaliação, o Egito cancelou a visita que uma comitiva do ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, faria ao país.

O comércio com os países árabes representa 5% do total exportado pelo Brasil entre janeiro e setembro de 2018, com soma de US$ 8,2 bilhões, aponta um levantamento da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB). No último ano, foram exportados mais de US$ 13 bilhões. Carnes de frango e bovina, açúcar e minério de ferros são os principais produtos comercializados.

Para Rubens Hannun, presidente da CCAB, ainda é cedo para avaliar as consequências das declarações de Bolsonaro. A indicação de mudança, porém, traz incerteza quanto à ampliação das exportações e a abertura de novos investimentos árabes no País.

Segundo ele, a  expectativa era elevar as vendas internacionais para US$ 20 bilhões ao ano até 2022. “Pode dar alguns ruídos e afetar essa relação de confiança que existe hoje”, afirma.

Entre os investimentos projetados, destaque para os aporte dos fundos soberanos. De acordo Hannun, o mundo árabe demonstra um grande interesse em aportar verbas no Brasil, principalmente na melhoria da infraestrutura para o agronegócio.

“Os países árabes são o segundo maior destino dos produtos agrícolas brasileiros. Eles têm o recurso para trazer para cá e investir.”

Falta de opção pode travar retaliações

O Brasil é o principal fornecedor de carne halal, técnica de abate e produção de acordo com os preceitos muçulmanos, no mundo. Além de maior exportador halal de alimentos, o País também emprega a técnica na produção de outros itens, como cosméticos e produtos de limpeza, afirma o presidente da CCAB.

A dominância brasileira na produção cria uma relação de dependência do mundo árabe com o País, diz o professor da Fundação Dom Cabral, Carlos Braga. “São contratos de longo prazo, e eles também não teriam alternativas para substituir o Brasil”, diz. “Pode ter alguma fricção diplomática, sem um grande valor econômico”, afirma.