Pela primeira vez, o combate ao aquecimento global se tornou tema de primeira grandeza para os partidos tradicionais durante as eleições europeias, impulsionado pela onda de mobilizações de jovens na Europa.

O crescente consenso a favor de uma reação urgente alimenta as expectativas de cooperação entre partidos, mas alguns temem que as formações populistas, que as pesquisas preveem uma forte progressão, quebre essa dinâmica.

A ativista sueca Greta Thunberg se tornou um dos rostos emblemáticos dos protestos. Milhares de adolescentes e jovens responderam à sua convocação por paralisações semanais.

Esta jovem de 16 anos advertiu os políticos europeus em Bruxelas que a história os lembraria como “os maiores vilões de todos os tempos” se não agissem contra esta crise climática.

O apelo parece estar funcionando. A proteção ao meio ambiente e ao clima ganha importância entre as preocupações dos europeus, ao lado da economia, do desemprego juvenil e da imigração, segundo pesquisa Eurobarômetro do mês de abril.

Os cidadãos de uma dezena de países – nórdicos, da Benelux, do oeste da Europa – estão mais preocupados. Em Bulgária e Romênia – os dois países mais pobres da União Europeia (UE) -, e na Polônia, o tema está longe de ser uma prioridade.

“Se comparado com 2014, realmente tornou-se um dos maiores desafios”, afirma à AFP Dara Murphy, diretora de campanha do Partido Popular Europeu (PPE), principal força política do Parlamento europeu em fim de mandato.

Nos últimos dois anos, seu partido de centro direita acrescentou as mudanças climáticas em seu programa.

– “Dinâmica histórica” –

Para a analista Stella Schaller, do centro de reflexão especializado Adelphi, o debate se impôs realmente “entre os quatro e seus últimos meses” em um contexto de seca, incêndios e inundações e suas duras consequências para os agricultores, assim como de protestos midiatizados.

O atual líder dos social-democratas no Parlamento europeu, o alemão Udo Bullmann, quer aproveitar essa “dinâmica histórica”.

Bullmann assegura que seu grupo revisou sua agenda nos últimos dois anos para responder ao desafio climático, garantindo que os mais pobres e os desempregados não sejam afetados pela transição energética e evitando distúrbios sociais como os ‘coletes amarelos’ na França.

A UE se comprometeu no âmbito do acordo de Paris sobre o clima de dezembro de 2015 a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 40% em 2030, com relação aos níveis de 1990.

Mas segundo cientistas e ONGs, este objetivo é insuficiente para limitar o aquecimento abaixo de 2ºC com relação à era pré-industrial.

Grupos de especialistas alertaram inclusive estes últimos meses sobre as ameaças para a humanidade que representam as mudanças climáticas e a destruição da natureza.

Diante destes movimentos, registram-se reações igualmente apaixonadas. Assim como outros grupos de extrema direita, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) decidiu se unir à revolta anti-clima nesta campanha europeia.

Este partido pró-diesel, pró-carvão e cético do aquecimento global, tenta seduzir quem pensa que o combate às mudanças climáticas provoca um aumento nos preços da energia, destrói empregos e causa danos à indústria.

A analista Stella Schaller também teme que “grupos liberais e conservadores diluam [suas] propostas” para atrair nacionalistas. Mas Dara Murphy insiste em que o PPE “nunca” chegará a pactos com a “extrema direita” sobre o clima.

Os Verdes esperam aproveitar o movimento pró-clima. Um dos seus líderes nas eleições para o Parlamento Europeu, Bas Eickout, se mostra prudente sobre uma cooperação entre partidos sobre temas como o preço do carbono ou o fim da ajuda ao transporte aéreo.

Consultado sobre se os partidos políticos mudaram realmente suas posições sobre o clima ou tentam simplesmente ganhar votos, responde que “o júri ainda está deliberando”.