A explosão dos casos de cólera no mundo tem sido acentuada pela mudança climática, levando a uma situação inédita há várias décadas e agravada pela escassez de vacinas, advertiu a OMS nesta sexta-feira (16).

As autoridades sanitárias nacionais e as agências da ONU estão combatendo a chamada “enfermidade da pobreza” em 29 países, explicou Philippe Barboza, responsável na Organização Mundial da Saúde (OMS) pelo combate à cólera, uma doença relacionada com a falta de acesso à água potável e a instalações sanitárias adequadas.

– Falta de vacinas –

“O mapa é quase vermelho em todas as partes”, indicou o epidemiologista, citando Haiti, Paquistão, Líbano, Síria, Quênia, Etiópia e Malawi, entre outros países.

“Se não controlarmos a epidemia agora, a situação vai piorar”, insistiu.

No Haiti, onde até há pouco tempo não havia sido registrado nenhum caso em três anos, a situação se deteriorou rapidamente em um contexto de violência e banditismo, o que dificulta ainda mais o acesso a atendimento médico, que já era bastante precário.

A doença já causou mais de 280 mortes no país, que recebeu 1,2 milhão de doses da vacina oral contra o cólera, e a campanha para administrá-las deve começar nos próximos dias.

Contudo, as reservas mundiais do imunizante para fazer frente às emergências estão quase esgotadas, e as 36 milhões de doses que são fabricadas a cada ano já têm destino certo, explicou Barboza aos jornalistas em Genebra.

Como não existem laboratórios suficientes, são fabricadas apenas 2,5 milhões de doses por mês. Segundo Barboza, serão necessários muitos anos para aumentar consideravelmente a capacidade de produção.

O epidemiologista também assinalou que esse medicamento é “muito menos atrativo” para os fabricantes, porque trata-se de “uma vacina para países pobres”.

Nesse sentido, a OMS tomou a decisão excepcional de recomendar uma mudança no tratamento com duas doses – que protege por vários anos – para outro com apenas uma, com o objetivo de alcançar mais pessoas.

– Mudanças climáticas –

“Os fatores que causam a cólera são sempre os mesmos”, ressaltou Barboza. “Mas este ano temos um fator ainda mais importante: o impacto direto da mudança climática, com uma sucessão de grandes secas, inundações sem precedentes em algumas partes do mundo e ciclones que amplificam a maior parte dessas epidemias”, acrescentou.

Conflitos armados como o da Síria, ou a crise econômica como a que assola o Líbano, também são complicadores da situação.

O funcionário da OMS indicou que a taxa de mortalidade para a epidemia atual é extremamente alta na maioria dos países sobre os quais a organização de saúde da ONU dispõe de dados.

“Não é aceitável no século 21 que as pessoas morram de uma doença bastante conhecida e de fácil tratamento”, declarou indignado.

A cólera pode matar em questão de horas, mas pode ser tratada com uma simples reidratação e antibióticos para casos mais graves. No entanto, muitas pessoas não têm acesso adequado a esse tratamento.

“A luta contra a cólera não está perdida. Podemos vencê-la”, ressaltou Barboza, assinalando que o acesso rápido a atendimento é crucial para reduzir a taxa de mortalidade.