23/10/2019 - 19:15
A mudança climática coloca sérios desafios aos esforços atuais e futuros de construção da paz e pode ampliar conflitos, de acordo com um relatório sobre anos de violência e seca devastadoras na Somália, divulgado nesta quarta-feira.
Pesquisadores do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri) analisaram como os conflitos e os esforços de construção da paz da Missão de Assistência das Nações Unidas na Somália (UNSOM) foram afetados pelas mudanças climáticas e descobriram que esta “amplia os desafios existentes e fortalece grupos radicais”.
O estudo mostrou que “o cenário de segurança está mudando com as mudanças climáticas”, disse à AFP Florian Krampe, pesquisador sênior do programa de mudanças climáticas do Sipri, acrescentando que muitas das conclusões são aplicáveis a outros conflitos.
Segundo o relatório, décadas de conflito na Somália – descrita como “um dos países mais vulneráveis ao clima do mundo” – foram amplificadas por uma série de secas severas, adicionando pressão ao processo de construção do Estado e tornando o trabalho da UNSOM mais desafiador.
Por exemplo, a frequência e a gravidade dos conflitos entre pastores e agricultores nas regiões rurais aumentaram à medida que a mudança das estações e do clima significa que os nômades de pastoreio precisam ajustar suas rotas.
Secas e inundações também deslocam mais pessoas, que buscam abrigo em campos que servem como campo de recrutamento para grupos radicais como o Al-Shabaab.
O deslocamento de grandes grupos para novas áreas também pode minar a governança dessas áreas, pois os acordos de compartilhamento de poder existentes não representam mais a “composição demográfica” no terreno.
Enquanto Krampe hesitava em dizer que a mudança climática por si só poderia causar conflitos, ele achava que as evidências eram claras de que “a mudança climática aumenta a probabilidade de conflito e de violência”.