O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), reagiu às declarações da senadora Katia Abreu (PDT-TO), de que “os agricultores que estão alegres hoje vão chorar amanhã”. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta terça-feira, 13, Kátia se referia aos impactos da política ambiental do presidente Jair Bolsonaro, que, em sua avaliação, ameaça o acesso de produtos brasileiros no exterior e pode causar prejuízos ao agronegócio.

Líder da bancada ruralista na Câmara, Moreira disse que a senadora “muda de opinião muito rápido, como troca de blusa”. “Kátia Abreu, nesse momento, expressa uma posição política de oposição. Aliás, se a Kátia Abreu estivesse falando na condição de presidente da CNA (a senadora foi presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária), ela diria completamente o inverso”, comentou o deputado. “É que a Kátia Abreu muda de opinião muito rápido, como troca de blusa.”

Questionada sobre a declaração de Alceu Moreira, a senadora voltou a mencionar o risco das políticas atuais repercutirem das negociações externas do País. “Prefiro mudar de opinião pelo amor, que é a ciência e o bem-estar dos consumidores, do que pela dor, que é a perda de mercados internacionais”, declarou.

Na entrevista concedida ao Estado, a ex-ministra da Agricultura, que já foi um símbolo da retórica antiambiental, afirmou que “evoluiu” e que o discurso atual do setor é “antimercado” e representa atraso. Para ela, cabe ao Congresso atuar como um “aceiro”. Alceu Moreira, no entanto, afirmou que há uma campanha da Europa para derrubar a competitividade do agronegócio brasileiro, mesmo movimento que, segundo ele, já é feito há anos pelos Estados Unidos.

“A Europa quer nos atingir quando diz que estamos fazendo desmatamento desordenado. Não é a mata amazônica [que a incomoda]. É a economia, é a nossa competitividade de mercado. Eles estão querendo, na verdade, que a gente se transforme numa Argentina”, disse Moreira. “A gente não vai ficar na condição de vítima. Vamos agir com inteligência, fazer um plano de comunicação externa a partir das embaixadas brasileiras.”

De acordo com o parlamentar, os europeus querem ter controle da produção da produção nacional. “É o que eles querem. Os americanos dizem há muito tempo, ‘florestas lá, lavouras aqui’. Não é uma coisa inusitada. Adianta nós ficarmos fazendo esse belo discurso? Não. Temos que agir e mostrar para o mundo. Não são só eles que são clientes no mundo. A Ásia não pensa assim com relação à questão ambiental, os países árabes não pensam assim”, disse Moreira. Quando fazem esses controles, querem fazer a lei de mercado. Eu criminalizo meu concorrente para poder vender livre e solto. Nós não podemos ficar calados, nos queixando”, comentou.

Crítica à Alemanha

O presidente da FPA criticou ainda a decisão da Alemanha de paralisar investimentos no Fundo Amazônia, programa de combate ao desmatamento realizado com recursos doados pela Alemanha e Noruega. “Que autoridade tem a Alemanha para falar da Amazônia, se eles não têm um palmo de mata ciliar, se eles não têm área de preservação permanente, absolutamente nada? De onde eles acham que podem falar sobre isso?, questionou.

“Se eles realmente estivessem muito interessados em trabalhar a questão ambiental no Brasil, a primeira grande reclamação seria uma capital como São Paulo, ou Rio de Janeiro, que acabam lançando nos mares toneladas e mais toneladas de plástico e sujeira da pior espécie.

Licenciamento

A FPA é hoje a principal defensora do projeto de Lei Geral do Licenciamento Ambiental, relatado pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP). Kim voltou a participar de almoço com parlamentares ruralistas nesta terça-feira, 13.

O texto foi alvo de críticas pesadas de especialistas. Em nota, 84 organizações socioambientais, como Conselho Indigenista Missionário, Greenpeace, Instituto Socioambiental, Observatório do Clima, SOS Mata Atlântica e WWF-Brasil, afirmaram que Kataguiri “deu uma guinada de 180 graus, rompeu acordos anteriormente firmados e apresentou, de última hora, um substitutivo que torna o licenciamento exceção, em vez de regra, comprometendo a qualidade socioambiental e a segurança jurídica das obras e atividades econômicas com potencial de impactos e danos para a sociedade”.

Para Alceu Moreira, não há o que mexer no projeto. “O texto é certamente uma das obras mais importantes que o parlamento fez ao longo de sua história”, disse o deputado, afirmando que vai fazer “um grande evento para discutir isso com os grandes líderes das bancadas”. “Vamos esmiuçar isso para mostrar o que é verdade e o que é mentira com relação à legislação ambiental. Vamos nos reunir com Rodrigo Maia, os líderes e tentar convencer, para por em votação neste mês. Essa é uma votação em que não haverá consenso. O parlamento existe para isso.”