O mercado imobiliário brasileiro mostra a cada mês que os fortes impactos da pandemia ficaram no passado e que o futuro se revela promissor. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção mostram que as vendas de imóveis no País subiram 27,1% no primeiro trimestre deste ano na comparação com a mesma época do ano passado. Do total comercializado no período, 51,5% corresponderam ao programa habitacional Casa Verde e Amarela, voltado ao segmento econômico e foco da MRV, a maior construtora da América Latina, com faturamento R$ 8,7 bilhões no ano passado. A plataforma de soluções habitacionais apresentou ao mercado na terça-feira (10) o consórcio Casa Programada MRV, para tentar facilitar o acesso da população à casa própria. “É mais uma forma de contribuirmos para a diminuição do déficit habitacional no País, que ainda é tão grave”, afirmou à DINHEIRO Rafael Menin, copresidente da MRV. Estima-se que o déficit anual seja de ao menos 7 milhões de moradias.

Em parceria com a Bamaq, administradora de consórcios no Brasil, a MRV passou a disponibilizar aos clientes cartas de crédito de R$ 16,5 mil a R$ 33 mil. Após contempladas, elas poderão ser utilizadas como valor de entrada na aquisição de um imóvel. O prazo de pagamento é de até 48 meses, com parcelas entre R$ 500 e R$ 1 mil. “O Casa Programada reafirma o nosso propósito de construir sonhos que transformam o mundo”, disse Menin. A MRV acredita que o negócio possa movimentar pelo menos R$ 10 milhões até outubro.

O planejamento para o lançamento do consórcio começou em janeiro, quando a companhia previu a retração do mercado de imóveis – o que acabou não ocorrendo – em decorrência do aumento dos preços das unidades, motivado pela alta dos insumos e matérias-primas, e da dificuldade de obtenção de crédito por parte dos consumidores. “A intenção é contemplar os clientes que ainda não realizaram a aquisição, seja por uma questão burocrática ou por ainda não ter recursos”, afirmou Daniel Frutuoso Ferreira, diretor comercial da MRV.

A plataforma pretende vender 600 cotas até outubro, embora Frutuoso se mostre confiante na superação da meta em razão da expertise da MRV no segmento. Mesmo com o advento da pandemia, a companhia vendeu 54 mil imóveis em 2020, volume que deve se repetir neste ano, de acordo com as estimativas do diretor.

TRADIÇÃO O executivo Clemente Faria Junior, CEO da Bamaq, disse que o objetivo da parceria com a MRV é proporcionar ao cliente a oportunidade de planejar a entrada no imóvel assim que for contemplado pelo consórcio. Os lances também são vistos como importantes aliados para a antecipação do benefício. O processo operacional será 100% digital. Já o diretor da MRV afirmou que a parceria foi motivada pela tradição da Bamaq no setor e por possuir uma plataforma fácil de operar. “É totalmente digital e vai funcionar melhor por causa do volume da MRV, do nosso tamanho.”

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“O casa programada mrv é mais uma forma de contribuirmos para a diminuição do déficit habitacional no país, ainda tão grave” Rafael Menin, copresidente da MRV.

Com a intenção de atrair a atenção dos clientes ao novo produto, o consórcio vai disponibilizar aos inscritos serviço de saúde a distância (consultas on-line disponíveis por 24 horas, todos os dias da semana) por um período de seis meses sem custo adicional. Para ter direito ao benefício, no entanto, o consumidor terá que manter as parcelas em dia.

A iniciativa da MRV ocorre em momento promissor do segmento de baixa renda no Brasil. Foram vendidas 27,3 mil unidades do programa no País no primeiro trimestre deste ano, aumento de 43% em relação ao total de 19,2 mil de igual período do ano passado. O número de lançamentos para a camada popular foi de 15,7 mil nos primeiros três meses do ano, 55,6% de todas as classes. Houve aumento de 3,7% em relação ao mesmo período do ano passado.

A nova investida da MRV é vista, até certo ponto, com bons olhos por Rafael Tellechea Cerqueira, cofundador e diretor de operações da aMora, uma proptech que aposta em sistema inovador de moradia no País, por meio de compra compartilhada e aluguel de imóvel. Na visão do engenheiro, ao mesmo tempo em que o consórcio ajuda o cliente a comprar e a se organizar financeiramente antes de buscar um financiamento imobiliário, não oferece a oportunidade de entrada imediata no imóvel, a menos que ele seja sorteado ou dê um lance. “A pessoa começa a pagar, mas não está morando no local. Quando a pessoa é sorteada logo no início fica uma compra bem interessante. Se isso não acontecer, acaba com um custo alto no final, muito mais do que um financiamento normal.”

Apesar disso, Cerqueira valoriza a preocupação das construtoras com os valores de entrada na compra de um imóvel (de até 30% do total em muitos casos). “Tem muita gente sem condições de arcar com essa responsabilidade e o consórcio é visto como uma opção para parcelar esse montante, de começar a pagar”, afirmou. Uma alternativa para o sonho brasileiro da casa própria.